sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Sobre Nilton Bueno Fischer
A morte prematura de um dos mais importantes de nossos educadores enche de consternação o magistério gaúcho. Fischer era reconhecido nacionalmente por seus estudos de Educação Popular e vinha trabalhando com recicladoras da zona norte de Porto Alegre. Nascido em Novo Hamburgo em 1947 e vivendo a maior parte de sua vida em São Leopoldo, formou-se em Economia pela UNISINOS em 1970. Mestre em 1977, Doutor em 1982, Pós-doutor em 92, autor de “Educação e Classes Populares” (Mediação, 1996), “Por uma nova esfera pública” (Vozes, 2000), “O cotidiano na formação de professores”(Salles Editora, 2009) Fischer orientou dezenas de teses de doutorado e trabalhos de mestrado, formando uma geração de pesquisadores gaúchos. Seu reconhecimento o levou a ser consultor de diversas instituições nacionais, como o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, INEP-MEC, Fundação Carlos Chagas e a Fundação Ford.
Tudo isso já é suficiente para justificar o sentimento de perda que acomete os educadores gaúchos. Mas há mais. A tristeza pela perda advém de um sentimento cultivado por Fischer durante anos de magistério superior: a postura libertária. Alegre, irônico, com um grande humor, Fischer transformava os corredores da universidade em ambiente de alegria e contentamento em defesa da liberdade de criação e pesquisa. A figura humana ultrapassava em muito o pesquisador, já que ensinava aos acadêmicos, aquilo que Roland Barthes já enunciava em seu texto basilar “A aula”: de nada adianta o “saber” sem o “sabor”, sem o prazer que o conhecimento provoca. Trazendo ar novo para a universidade, Fischer mostrava que era possível ser pesquisador “sem abandonar a ternura jamais”.
Além disso, a postura interdisciplinar era uma marca pessoal. Suas fontes eram da antropologia de Clifford Gertz , sem o qual era impossível dirigir um novo olhar para a educação. Seus seminários eram concorridos e suas orientações, disputadas. E não faltava tempo para brincar com os alunos, com os pares, sempre com a humildade que o caracterizava. Sobre pesquisa, afirmava: “Espero simplesmente que a vontade de duvidar, de perguntar criticamente e de exercer a palavra como condição de liberdade possa ajudar nos processos de pesquisa”. Sua perda é sentida duplamente pelos educadores: pelas pesquisas que legou e pretendia realizar e pela inestimável figura humana que encarnava.
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