quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A renovação da Câmara



A renovação de 44% dos vereadores da Câmara Municipal de Porto Alegre é um indicador importante da consciência da população quanto ao fundamento da democracia – todo o poder emana do povo - o que também pode significar: quem entra pelo voto saí pelo voto.

Não há entretanto nesse campo como discutir a questão da justiça. São os que entram melhores do que os que saem? Quem entra o faz com base numa promessa e quem sai tem a certeza de ter feito um bom trabalho. A verdade é que bons vereadores perderam a eleição e os que entram tem uma responsabilidade redobrada: a de mostrar que conquistaram seu lugar não por uma coincidência entre regulação eleitoral e propaganda, mas pela capacidade de fazer ações significativas para a cidade.

A perda de mandato para um vereador que realmente trabalhou – e foram muitos – é um momento de grande tristeza. É vivida como uma “pequena morte”, tão fascinante é a vida política. Estes vereadores terão que reconstruir suas trajetórias, mudar seus projetos, mas tudo isso significa fazer também, aquilo que é sua especialidade: fazer política. Não há nada mais digno para o vereador que parte do que o agradecimento sincero aos eleitores, como fez Margareth Moraes; nada enobrece mais o legislativo do que a lição dos reeleitos aos “novatos”, como fez João Dib. O tempo para e é como se o verdadeiro espírito legislativo por um instante ocupasse o plenário: mudanças fazem parte da existência e nada podemos fazer.

Para o parlamento, a vida continua. Para os futuros ex-vereadores, um novo mundo se descortina. Eles ainda tem um capital de grande valor, o conhecimento da vida da cidade. Cabe a eles em seus partidos galgarem novos espaços. Alguns aproveitarão para voltar a família, outros, as suas antigas profissões. Sua grande lição é a lembrança para os mais novos de que, mais importante do que fazer leis, é usar seu poder de fiscalização.

Os novos tem muito a aprender com os vereadores que ficam assim como com as equipes de trabalho. Um parlamento é uma instituição, repleta de ordenamentos jurídicos, práticas e rotinas de trabalho que os mais novos serão introduzidos. Chama-se a isso “socialização do vereador”. Logo que assumam, terão o seu dever de casa pela frente, muitas aulas, e o que é mais importante, uma visão de um parlamento renovado, com o objetivo de atender expectativas sociais e preparado para assumir uma função colaborativa na área educativa e cultural no século XXI. Que isso seja apenas o anúncio das exigências que estão por vir já dá aos novos uma boa noção dos desafios da responsabilidade.

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