quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Centro Livre Já!
Ocorreu uma grande mudança no centro. Dezenas de camelôs desembarcaram suas mercadorias no camelodromo oficial do governo José Fogaça. Reclamações, baixa das vendas, etc. Acredito que o melhor para os feirantes é um abono por um longo período, até que as coisas se ajustem.
Mas não é disso que quero falar. Quando o centro esvaziou, confesso que pensei primeiro que tudo terminaria aí. Foi então que soube pela imprensa que o Prefeito pretende instalar estacionamentos naquele espaço. Um estacionamento.
Não estou entendendo nada. O que falta na cidade é espaços de sociabilidade. Numa palavra, praças, parques e belvederes ou sei lá o quê onde as pessoas possam simplesmente se encontrar. Caminhar sem o atropelo do ajuntamento que o comércio informal provoca, andar pela cidade como o flaneur (Walter Benjamim) a observar o dia a dia que passa.
Ninguém vai me ouvir, tenho certeza. Na sociedade do automóvel, ninguém vai se lembrar de que, antes dos carros haviam carroças naquele espaço, e antes delas, o caminhar tranqüilo do portoalgrense do século XVII.
Foi para isso que retiramos dezenas de camelôs do centro da cidade?. Foi para colocar em seu lugar nossos automóveis cromados, e quem sabe, com aqueles equipamentos de som insuportáveis que nossa juventude adora?
O centro é histórico. Serve para preservar nossa memória, para viajar do presente até o passado e dele retornar. Com o entorno do mercado e de prédios quase centenários, como o Chalé, sugiro que no máximo coloquemos naquele espaço, bancos. Bancos para sentar e observar o centro que passa. Bancos por muitos lados, próximos do Chalé da Praça 15, e talvez no máximo a arborização que uma vez já existiu na Praça Parobé, a antiga Praça. Para quem não sabe, até uma antiga fonte ali existia, e faria um imenso bem a saúde mental da cidade que ela para lá voltasse.
Confesso que se é para deixar carros, prefiro que os camelos voltem. Com sua gritaria infernal, com sua correria dos ‘meganhas”, com seu comércio informal e não oficial (sic), pelo menos eram pessoas. Prefiro as pessoas aos carros. Se há uma discussão sobre o centro e se há um conceito fundamental a defender, este é o de humanização do centro. Abrir estacionamentos é apenas uma forma de privatizar o espaço público, e disto, já estamos cheios.
Sou um idealista, já deu para perceber. E radical. Esqueça os bancos, quero um centro sem nada. Vazio. Talvez esta seja a proposta realmente revolucionária. Contra nosso consumismo, contra o capital, contra a burocracia de plantão, contra as empresas de estacionamento. Tirar tudo e não deixar nada, apenas um lugar de passagem, como aquele espaço foi em sua origem, como aquele espaço foi nos primórdios da cidade. Que ansiedade é esta que nos obriga a colocar algo no lugar? Não podemos simplesmente deixar “ao sabor “ da sociedade. Garanto que o setor turístico adoraria. Garanto que músicos, rappers e artistas de plantão, logo transformariam o espaço em lugar de efervescência cultural, exatamente o que se espera de um espaço como aquele quando destinado a homens livres.
Centro livre já ! Apóie esta idéia. Ou lute por sua vaga de estacionamento....
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