quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Sobre a descortesia contra a mulher


Foram duas situações neste ano que chamaram a atenção para uma atitude com relação a mulher, a descortesia. Foram protagonizadas por pessoas públicas, em ambientes públicos, e de fato, não precisariam – e não deveriam – ter acontecido. quando a Isabela Fogaça foi “desconvidada” de uma apresentação musical no Jogo Brasil X Peru no Estádio do Internacional e a segunda, protagonizada por Mauro Renner, do Ministério Público Estadual, que rejeitou, de maneira enérgica, a indicação de uma mulher – segunda colocada – ao mais alto cargo daquele órgão.

Falamos muitas vezes da violência contra a mulher. Estamos organizados para combate-la, ainda que com todas as dificuldades que encontram Conselhos de Defesa da Mulher, Delegacias da Mulher, e por aí afora. Constatamos a violência contra a mulher como algo que deve ser banido do horizonte social, condenamos sua prática como algo vil e mal. Não se admite que em pleno século XXI seja possível praticar violência de qualquer espécie contra a mulher – como fazemos para combater a violência contra qualquer outro sujeito, negro, criança, etc.

Mas há algo estranho quando falamos da cortesia. Essa virtude do século XVI, tão bem descrita por historiadores como Norbert Elias, autor de ‘A sociedade da corte”, remonta a uma época onde o ritual preexiste as regras sociais. Ser cortês é um modo intrínseco de ser, o modo natural com o qual nos relacionamos com o Outro. È, talvez num certo sentido, a primeira forma da educação, se por ela entendemos aquilo que nos faz valer em relação ao Outro.

A cortesia era para ser, passados 400 anos, algo já assimilado ao mundo social. Deveria servir para definir o homem e a mulher. Deveria ser qualquer coisa, menos a primeira a abrir mão nas relações sociais. E foi exatamente isto que ocorreu nas três situações citadas. Por calor do momento, por confusão ou por raiva, três mulhers foram vitimas de circunstâncias das quais não tiveram nenhum controle, e exceto no caso de Isabela Fogaça – protagonizadas por homens. A verdade é que ainda não se sabe se teria partido de Yeda Crusius a ordem para “desconvidar” (ai!) Isabela Fogaça, e se isso teria haver com uma posssível candidatura de José Fogaça ao Governo Estadual. Talvez porque não se saiba o potencial eleitoral da canção “Porto Alegre é demais....”

As atitudes devem nos inspirar uma reflexão: não é apenas no combate as grandes “coisas” – a violência, etc – que devemos nos concentrar. Atitudes comezinhas falam de nossa natureza, e talvez por aí devemos recomeçar a avaliar o ser público que somos. Rejeitar tais atitudes é um dever para a sociedade, e seria bom, nestas horas, um pedido de desculpas. O que seria, numa palavra, a cortesia mínima a ser realizada com relação a estas mulheres.

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