Passada a 11ª Semana Nacional dos Museus, como podemos desenhar o mapa da área? Promovida pelo Instituto Brasileiro dos Museus (IBRAM) com o tema “Museus (memória+criatividade) = mudança social”, a semana acontece anualmente para comemorar o Dia Nacional dos Museus (18/5). Nela, o governo assume para si um belo discurso onde é enfatizada a importância da atividade por “dar sentido à existência” etc, etc. Por detrás da iniciativa esconde-se o fato de que o governo lucra políticamente com a divulgação das iniciativas de museus carentes de todo o pais nos quais não investiu recurso algum e pouco faz para a resolução dos verdadeiros problemas da área.
A verdade é que os museus são afetados cada vez mais pelas características que marcam as demais políticas públicas em nosso país. Primeiro porque o governo prefere adotar as políticas populares para a área do que as impopulares, que sofrem resistência. Prefere gastar em divulgação, que é bem vista pela comunidade, do que em desapropriar próprios locais da iniciativa privada abandonados para servir de sede para museus que vivem de aluguel. Segundo porque a politica pública para museus é movida por crises como qualquer outra instituição pública. No dia-a-dia dos museus, seus técnicos tem atuado mais como “bombeiros” apagando “incêndios” do que formuladores de políticas de longo prazo, enquanto que o governo dá pouco valor às políticas que visam prevenir tais crises nos museus. Por exemplo, ao invés de prever no Orçamento e no Plano Plurianual mais recursos para a área, prefere deixar que seus funcionários invistam de seu próprio bolso para produzir exposições. Esse modo de ser não é privilegio de um nível de governo, atravessa todo o sistema, dos estados aos municípios.
Eventualmente, como em qualquer outra área, as crises na área cultural e dos museus levam a mudanças nas suas lideranças e gerentes, mas suas causas continuam sendo tratadas de maneira inadequada pelos sucessivos governos. E o ponto é sempre o mesmo: falta investimento em pessoal qualificado e investimentos em reforma de nossos museus, o calcanhar de Aquiles de nossas políticas da área. Pior, nossos museus começam a integrar o jogo politico de curto prazo da distribuição de cargos para garantir o apoio politico quando são os interesses de longo prazo que deveriam ser visados.
Finalmente, os museus frequentemente são vitimas das politicas adotadas por outros órgãos de governo. Por esta razão é tão nefasta para a área a política de contenção de déficit orçamentário ou a politica de tributação para importação de bens necessários à recuperação de suas obras, etc. Contratar um restaurador especializado é a maior dificuldade; adquirir com recursos públicos um acervo privado de interesse social nem pensar. Assim, nesta semana dos museus, os profissionais da área tem dois objetivos a perseguir. O primeiro é que devem lutar por políticas públicas para a área mais eficazes, além de recusar a política de "apagar incêndios" tão comum à área. O segundo é que devem discutir se não estaria na raiz dos problemas dos museus o fato de que as vezes nem os diferentes órgãos do governo se entendem, o que torna difícil, as vezes impossível, a mediação dos objetivos políticos e dos procedimentos administrativos gerais do Estado à natureza e necessidade da produção museal na contemporaneidade.
sexta-feira, 31 de maio de 2013
quarta-feira, 29 de maio de 2013
O museu como uma pilha
No filme Matrix, os humanos são baterias onde o cérebro é ligado a um mundo
onírico mas cujos corpos ficam em cápsulas que alimentam máquinas que os
controlam. Esta é a imagem que vem a mente no Dia Nacional dos Museus. Na nossa
Matrix museológica, os museus são as baterias que vivem a alimentar uma máquina
que chamamos Estado. Nesse universo fantasmático, os museus servem para o
Estado dizer que tem políticas de museu quando não tem. A nível federal, a
política de museus estabelece a concorrência pura e simples pelos escassos
recursos através de Editais, quer dizer, submete-os a mesma matriz corporativa
na qual Thomas A. Anderson trabalha, metáfora do controle diabólico da IA, aqui,
do Estado; a nível estadual, cada museu é uma Nabucodonossor que busca
sobreviver num universo hostil habitado por sentinelas, as "lulinhas" do filme,
aqui, a falta de pessoal, de recursos financeiros e equipamentos.
No filme os personagens sempre buscam a “saída viável”, expressão dada ao modo de como sair da Matriz; aqui é a busca feita por nossos museólogos pela "saída viável" para escapar da situação de abandono pelo Estado. Basta um olhar ao redor: nossos melhores acervos de jornais convivem com teias de aranha, nossos melhores quadros aguardam restauração e nossas melhores esculturas públicas encontram-se abandonadas em depósitos. Que dia de museus é este para comemorar? É que, como no filme, o mundo dos museus é um mundo de sofrimento: assim como é inconcebível um mundo justo se os humanos padecem, como os museus podem comemorar se passam o dia a sofrer?
Nossos museus precisam de um oráculo. Ele diria algo do assim: “- Vocês estão demasiado preocupados com o passado. Voltem-se para o futuro." Com isto ele quer questionar os processos de galopantes de digitalização dos acervos das instituições públicas. Acervos do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário hoje estão cada vez mais digitalizados. Que acervos estamos legando para o futuro? Quem garante a sobrevida de fotografias e de processos que deixam o suporte papel para o suporte digital, e portanto, passam a ser gravados em DVDs que cedem ao menor risco, ou preservados nos HD dos computadores que cedem ao menor vírus? Que modernização dos museus é essa que cede ao acidente (Paul Virilio)? É esta a política de preservação de acervos públicos para museus que queremos?
O hipotético oráculo, comendo um biscoito, ainda diria: “- Em segundo lugar, vocês, museólogos, no seu dia, sequer estão discutindo suas práticas de museu.” É verdade: banners gigantes de fachada e telas de TV nunca foram garantia de boa exposição. Neste mundo pós-moderno, cobram cada vez mais de nossos museólogos a garantia de experiências sensíveis cada vez maiores e de macro-exposições que levam, paradoxalmente, a uma perda da memória no interior do próprio museu. Que estética de museu é esta onde a forma é mais importante que o conteúdo?
Os museus devem discutir no seu dia se querem ou não atender ao desejo dos novos tempos de hegemonia da imagem, do entretenimento instantâneo, do culto politico, da valorização do mercado e do exibicionismo de macroexposição típicos da indústria cultural capitalista. Museu não é lugar para vender souvenir, é espaço de memória e educação, ele tem algo a dar que não pode ser oferecido por nenhum outro meio. É isso que os museólogos precisam discutir nesta data.
No filme os personagens sempre buscam a “saída viável”, expressão dada ao modo de como sair da Matriz; aqui é a busca feita por nossos museólogos pela "saída viável" para escapar da situação de abandono pelo Estado. Basta um olhar ao redor: nossos melhores acervos de jornais convivem com teias de aranha, nossos melhores quadros aguardam restauração e nossas melhores esculturas públicas encontram-se abandonadas em depósitos. Que dia de museus é este para comemorar? É que, como no filme, o mundo dos museus é um mundo de sofrimento: assim como é inconcebível um mundo justo se os humanos padecem, como os museus podem comemorar se passam o dia a sofrer?
Nossos museus precisam de um oráculo. Ele diria algo do assim: “- Vocês estão demasiado preocupados com o passado. Voltem-se para o futuro." Com isto ele quer questionar os processos de galopantes de digitalização dos acervos das instituições públicas. Acervos do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário hoje estão cada vez mais digitalizados. Que acervos estamos legando para o futuro? Quem garante a sobrevida de fotografias e de processos que deixam o suporte papel para o suporte digital, e portanto, passam a ser gravados em DVDs que cedem ao menor risco, ou preservados nos HD dos computadores que cedem ao menor vírus? Que modernização dos museus é essa que cede ao acidente (Paul Virilio)? É esta a política de preservação de acervos públicos para museus que queremos?
O hipotético oráculo, comendo um biscoito, ainda diria: “- Em segundo lugar, vocês, museólogos, no seu dia, sequer estão discutindo suas práticas de museu.” É verdade: banners gigantes de fachada e telas de TV nunca foram garantia de boa exposição. Neste mundo pós-moderno, cobram cada vez mais de nossos museólogos a garantia de experiências sensíveis cada vez maiores e de macro-exposições que levam, paradoxalmente, a uma perda da memória no interior do próprio museu. Que estética de museu é esta onde a forma é mais importante que o conteúdo?
Os museus devem discutir no seu dia se querem ou não atender ao desejo dos novos tempos de hegemonia da imagem, do entretenimento instantâneo, do culto politico, da valorização do mercado e do exibicionismo de macroexposição típicos da indústria cultural capitalista. Museu não é lugar para vender souvenir, é espaço de memória e educação, ele tem algo a dar que não pode ser oferecido por nenhum outro meio. É isso que os museólogos precisam discutir nesta data.
O Dia Internacional do Brincar
Dia 28 de
maio é o Dia Internacional do Brincar. Instituído pela Unesco com o objetivo de
resgatar e incentivar o brincar na infância e a importância da brincadeira como
momento cultural, seu pressuposto básico é que brincar é aprender. Direito
consagrado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, a data nos impõe uma
reflexão: como comemorá-la quando as praças estão vazias devido a violência,
seus brinquedos sucateados e as necessidades de brincar da infância parecem
reduzir-se a satisfação proporcionada por brinquedos oferecidos pelo mercado? A
verdade é que a memória do brincar encontra-se esmaecida pelo excesso de
estímulos que fazemos à infância, produto dos inúmeros brinquedos à disposição,
mercadorias que impelem as crianças a adentrar cada vez mais cedo na lógica
consumista e adquirir o hábito de substituir seus brinquedos como
uma mercadoria qualquer.
O brincar, a
brincadeira e o brinquedo são integrantes de um mesmo universo de acesso da
criança ao mundo mas, no atual, a infância e o brincar são vítimas da
artificialização de nossa existência. As novas configurações do brincar
adaptam-se aos novos tempos mas a medida em que as crianças passam a exigir cada
vez mais brinquedos novos, deixam escapar a dimensão do sonho e do
devaneio que a brincadeira possibilita. O que é revolucionário no brincar é que
para fazê-lo, é preciso suspender o tempo, praticar novas sociabilidades, o que
jogos virtuais roubam das crianças. Para que as crianças possam gozar o dia do
brincar, é preciso que os pais questionem a atitude que é oferecer em excesso os
novos objetos de desejo da criança. É preciso que julguem porque se nas
brincadeiras tradicionais a fantasia se revela no brincar, nas modernas, como
nos games, a fantasia é pré-programada no roteiro dos jogos de computador. Fim
da brincadeira como mimésis, trabalho psíquico que exige que a criança invente
personagens, vista-os imaginariamente com as características que bem entender,
experiência que é substraída pelos jogos virtuais. O que acontece quando a
tecnologia é hegemônica nas formas do brincar?
Por isso
acredito que a verdadeira forma de resgatar o significado do dia do brincar é,
por parte dos pais, refletir sobre a importância de retomar a arte de contar
histórias (Walter Benjamin), gesto que inspira a imaginação da criança à prática
do brincar. Frente a emergência da tecnologia nos brinquedos, é preciso
estimular o uso daqueles feitos como arte pelas crianças, elaborados por suas
próprias mãos, hoje substituídas por artefatos da indústria cultural. Por parte
dos educadores, a brincadeira também deve ser um objeto de preocupação. Ela
cumpre seu papel pedagógico quando feita com intencionalidade, quando o jogo é
um modo de ensinar e aprender, a “isca”(Tânia Fortuna) para fisgar o interesse
do aluno, mas não de uma forma tradicional e autoritária, mas como espaço de
prazer e espontaneidade sem cair no hedonismo. O que significa que os adultos
devem redescobrir sua criança interior para ajudar a criança a comemorar seu dia
do brincar, não para agir como uma criança, mas para compreênde-la em suas ricas
dimensões.
sexta-feira, 10 de maio de 2013
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