quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Por um cuidado político




Primeiro foram os profissionais do campo da saúde e enfermagem que criaram o conceito de "Cuidado" para referir-se a situações onde os profissionais amparam os doentes, cuidam deles. Depois, foram os estudos de Frei Betto que buscaram ampliar o conceito, buscando um"cuidado planetário" sem o qual o mundo estaria abandonado a sua propria sorte.




Agora procuro pelas diferentes faces da noção de cuidado aplicado a política. Figura teórica necessária para entender a subjetividade política contemporânea, o termo cuidado político não é usualmente usado por nós, e deveria. Ele revela a busca pela construção de um pensamento politicamente sustentado numa subjetividade teórica alternativa, forma alternativa de pensar a relação dos sujeitos com a política, a fim de inventar novos sentidos para ele, que não deixa de perder. Novas formas de pensar o político para tempos em que a política não tem mais sentido.Cuidar da política como quem cuida de algo que merece cuidados. Tudo isto implica num movimento que vai além da teoria política clássica – os contratualistas e algo mais e os hábitos conservadores da razão política.




Penso que a tarefa dos educadores que propõem a si mesmo a tarefa de pensar a educação política das novas gerações devem ter a coragem de enfrentar as concepções dominantes no campo da socialização política. Considero importante o esforço que autores como João Pedro Schmitz fazem em “Juventude e Socialização Politica no Brasil: a socialização política dos jovens na virada do milênio”. Schmitz analisa o papel da juventude brasileira no processo de construção de uma cultura política orientada por atitudes e valores que fortaleçam a democracia. Suas questões ao longo dêsta obra: o que os jovens pensam em relação a seu futuro político? Quais as atitudes que estão desenvolvendo nesse campo? Quais suas a expectativas de vida? Encontra ao final a existência de uma cultura política híbrida, que não se enquadra em em nenhum dos modelos produzidos pela bibliografia relevante. Ora, nada mais favorável a hipótese de certo nomadismo das concepções políticas da juventude do que a experiência subjetiva que não se deixa apreeder, que é numa palavra, movimento no interior do humano. Nesse sentido, a c onsciencia política é de fato nômade e é um imperativo epistemológico e político para compreendermos como as novas gerações experimentam a política. Os jovens vão de um lado ao outro das iniciativas políticas - agremiações, grupos, ONGs: falta focá-los no campo político por excelência, as instituiçoes públicas.



Se considerarmos que o campo político vive um momento específico de sua história, onde as estruturas produtivas e simbólicas estão se alterando, teremos mais uma razão para perceber que as definições tradicionais que utilizávamos para defini-lo estão em erosão. Por isso acho fundamental a presença de Michel Mafessoli na Câmara Municipal. Autor de “A transfiguração do político”, Mafessoli apontou que o político pertence a categoria das coisas que perduram em todas as espécies de épocas, “sendo ao mesmo tempo, sempre diferentes”. (p.29). Mafessoli não deseja ser-nos útil, mas diante de tanta incompreensão do que seja o político, diz que “é importante dizer, aos que podem compreender, qual é o drama dessa forma chamada politico, nem que seja para mostrar suas evoluções.




Tal reflexão remete a obras anteriores do autor, especialmente “A violência totalitária”. Ali o autor esboçou suas primeiras indagações sobre o poder” assim, pois , o que se pode chamar de dinâmica social, verificando o quanto esta é estruturalmente relacionada com o poder; seja positiva ou negativamente, é sempre em relação à coerção social que se determinam o vivido social e sua interpretação”. (p. 24).



É verdade que a análise mafessoliana da violência totalitária, ainda é muito dura com relação as instituções em comparação com “A transfiguração do político”, neste último livro trata-se de afirmar a necessidade que a vida tem da política, os limites que ela impõe a vida mas que de fato , permiti-lhe existir. “Se insisto sobre o impacto muito relativo da ação humana na construção social, é para bem ressaltar que o que chamei de paixão com um ou sentimento coletivo nos introduz num simbolismo geral: a comunidade é integrante de um vast o conjunto cósmico do qual não passa de um elemento”(p. 35). Se há um motivo para perceber o sentido do político, é o sentido religioso que o fundamenta, diz Mafessoli.



Por esta nação é preciso que urgentemente façamos uma redefinição da teoria da socialização política. Ela terá muito a lucrar se trabalhar dentro da concepção mafessoliana de político, o que é o mesmo tempo dizer que só se salva a política que descobrir que há uma subjividade pós-moderno que é preciso alcançar. A contradição que deve ser posta em evidencia consiste em que numa época em que a política tem perdido o seu sentido, numa crise sem igual, mais ela deve ser objeto de um certo tipo de cuidado. Por que em momentos de crise justamente é a política o bom e eficar orientador da ação, e abandona-la é perder uma forma de organizar o sentido.




Assim, o que Mafessoli ensina é que para a política, a mesma condição histórica que pode ser vista como entrave de criação para o agir político pode ser vista como ponto de partida da criação. As perguntas que surgem imediatamente são: que tipo de política pode ser fundada a partir de uma ética do cuidado? Que tipo de cuidado político, se assim ousamos definir pode ser definido: o que ele apresenta de novidade para a política e para a introdução das novas gerações na política?Que paradigmas podem nos ajudar a dar um novo esquema para a vida política?A racionalidade está totalmente desacreditada ou pode inspirar ainda nossas reflexões? O modelo da criatividade política da juventude pode oferecernos alternativas para pensar a política?



A perspectiva de Mafessoli é apontar que nossa fraqueza de perceber as razões da crise da política entre os jovens está no fato de que precisamos inovar nossos instrumentos conceituais de percepção do que é o político, seu funcionamento, numa verdadeira crítica do poder, do contemporâneo na busca de outras forma de percepção-conceituais do mundo ao nosso redor. A imaginação política precisa dar um salto na forma como ensinamos política às crianças .




E a própria experiência política, enquanto ardil, sedução, jogo, estratégia, religião que está em discussão. A política precisa ser experienciada - de forma lúdica e didática - como ardil, estratégia, modo de operação do pensamento para fins; sedução, por que envolve discurso, envolvimento, encontro com o outro e seu convencimento por argumentos;religião - nada mitico - porque trata-se de uma forma de ligação entre os individuos, de crénça e fé em um projeto de sociedade.







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