sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Punir quem, cara pálida?



Ainda que a atuação da professora da escola de Viamão, (ZH, 23/9) como a do aluno, tenham sido percebidas como violentas, devemos nos distanciarmos para identificar a verdadeira violência que atravessa as suas ações.

A natureza da pena imposta ao aluno é apenas a parte mais visível, a chamada violência subjetiva e que inclui ainda duas outras formas sem as quais é impensável. A primeira é a violência simbólica, encarnada na linguagem e que transparece não nas palavras duras da professora, mas no próprio contexto com que toda situação é narrada. O que é violento é a naturalidade com que é aceito o fato de que a manutenção de nossas escolas é obrigação da comunidade e não do Estado; é a naturalidade com que professores tratam seus alunos com base em xingamentos.

A segunda é a violência sistêmica definida pelas conseqüências do funcionamento de nosso sistema econômico e político no interior da escola. Assim, o caso da professora é mais uma página da chamada “crise da educação”: a explosão da professora ocorre porque já não é mais possível suportar a precariedade das condições de trabalho.Há mais violência envolvida do que percebemos pelo discurso de seus protagonistas.

Para a professora, a perturbação de seu cotidiano é dado pela pixação do aluno, violência subjetiva, assim como é para o aluno a obrigação de assistir as aulas. Mas a verdadeira violência não é essa, ela é invisível para os seus protagonistas justamente porque sustenta a normalidade com que percebem sua vida na escola. O caso é na verdade o resultado de uma rede complexa de fatores que envolvem situação da educação em geral, mas também a chamada “crise geral da ética” que absorve nossa sociedade e que faz com que, na mesma semana em que este caso é notícia, deputados estaduais, sem nenhuma cerimônia, afirmem que recursos de diárias podem ser usados a seu bel-prazer.

A verdade é que as coisas vão mal na escola porque já vão mal na própria sociedade. E aí, o efeito destas outras formas de violência é fazer com que as coisas fiquem “fora do lugar”: o aluno-pixador é transformado em “bode expiatório” quando deveria ser denunciado à Delegacia da Criança e do Adolescente (DECA) enquanto que o professor que ultrapassa os limites é tratado como herói quando deveria receber advertência de seus superiores.

Punições escolares precisam ser feitas com responsabilidade, o que significa, na medida certa, mas como exigir isso de professores explorados em suas condições de trabalho? Como exigir critérios de justiça numa sociedade cada vez mais injusta? E como as crianças podem ter exemplos a seguir se é a sociedade que, a todo instante, mostra uma cultura sem valores morais?.O que devemos fazer é refletir sobre as condições de possibilidade de uma educação baseada em valores. Não há nem aluno e nem professor culpados, mas vítimas de um sistema que necessita reforçar sua ética para a construção de uma sociedade mais justa e honesta. E esse trabalho precisa começar pela escola, naturalmente, mas as demais instituições, principalmente as políticas, são parte integrante desse processo.

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