
Ocorreu uma grande mudança no centro. Dezenas de camelôs desembarcaram suas mercadorias no camelodromo oficial do governo José Fogaça. Reclamações, baixa das vendas, etc. Acredito que o melhor para os feirantes é um abono por um longo período, até que as coisas se ajustem.
Mas não é disso que quero falar. Quando o centro esvaziou, confesso que pensei primeiro que tudo terminaria aí. Foi então que soube pela imprensa que o Prefeito pretende instalar estacionamentos naquele espaço. Um estacionamento.
Não estou entendendo nada. O que falta na cidade é espaços de sociabilidade. Numa palavra, praças, parques e belvederes ou sei lá o quê onde as pessoas possam simplesmente se encontrar. Caminhar sem o atropelo do ajuntamento que o comércio informal provoca, andar pela cidade como o flaneur (Walter Benjamim) a observar o dia a dia que passa.
Ninguém vai me ouvir, tenho certeza. Na sociedade do automóvel, ninguém vai se lembrar de que, antes dos carros haviam carroças naquele espaço, e antes delas, o caminhar tranqüilo do portoalgrense do século XVII.
Foi para isso que retiramos dezenas de camelôs do centro da cidade?. Foi para colocar em seu lugar nossos automóveis cromados, e quem sabe, com aqueles equipamentos de som insuportáveis que nossa juventude adora?
O centro é histórico. Serve para preservar nossa memória, para viajar do presente até o passado e dele retornar. Com o entorno do mercado e de prédios quase centenários, como o Chalé, sugiro que no máximo coloquemos naquele espaço, bancos. Bancos para sentar e observar o centro que passa. Bancos por muitos lados, próximos do Chalé da Praça 15, e talvez no máximo a arborização que uma vez já existiu na Praça Parobé, a antiga Praça. Para quem não sabe, até uma antiga fonte ali existia, e faria um imenso bem a saúde mental da cidade que ela para lá voltasse.
Confesso que se é para deixar carros, prefiro que os camelos voltem. Com sua gritaria infernal, com sua correria dos ‘meganhas”, com seu comércio informal e não oficial (sic), pelo menos eram pessoas. Prefiro as pessoas aos carros. Se há uma discussão sobre o centro e se há um conceito fundamental a defender, este é o de humanização do centro. Abrir estacionamentos é apenas uma forma de privatizar o espaço público, e disto, já estamos cheios.
Sou um idealista, já deu para perceber. E radical. Esqueça os bancos, quero um centro sem nada. Vazio. Talvez esta seja a proposta realmente revolucionária. Contra nosso consumismo, contra o capital, contra a burocracia de plantão, contra as empresas de estacionamento. Tirar tudo e não deixar nada, apenas um lugar de passagem, como aquele espaço foi em sua origem, como aquele espaço foi nos primórdios da cidade. Que ansiedade é esta que nos obriga a colocar algo no lugar? Não podemos simplesmente deixar “ao sabor “ da sociedade. Garanto que o setor turístico adoraria. Garanto que músicos, rappers e artistas de plantão, logo transformariam o espaço em lugar de efervescência cultural, exatamente o que se espera de um espaço como aquele quando destinado a homens livres.
Centro livre já ! Apóie esta idéia. Ou lute por sua vaga de estacionamento....
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