Dia 28 de
maio é o Dia Internacional do Brincar. Instituído pela Unesco com o objetivo de
resgatar e incentivar o brincar na infância e a importância da brincadeira como
momento cultural, seu pressuposto básico é que brincar é aprender. Direito
consagrado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, a data nos impõe uma
reflexão: como comemorá-la quando as praças estão vazias devido a violência,
seus brinquedos sucateados e as necessidades de brincar da infância parecem
reduzir-se a satisfação proporcionada por brinquedos oferecidos pelo mercado? A
verdade é que a memória do brincar encontra-se esmaecida pelo excesso de
estímulos que fazemos à infância, produto dos inúmeros brinquedos à disposição,
mercadorias que impelem as crianças a adentrar cada vez mais cedo na lógica
consumista e adquirir o hábito de substituir seus brinquedos como
uma mercadoria qualquer.
O brincar, a
brincadeira e o brinquedo são integrantes de um mesmo universo de acesso da
criança ao mundo mas, no atual, a infância e o brincar são vítimas da
artificialização de nossa existência. As novas configurações do brincar
adaptam-se aos novos tempos mas a medida em que as crianças passam a exigir cada
vez mais brinquedos novos, deixam escapar a dimensão do sonho e do
devaneio que a brincadeira possibilita. O que é revolucionário no brincar é que
para fazê-lo, é preciso suspender o tempo, praticar novas sociabilidades, o que
jogos virtuais roubam das crianças. Para que as crianças possam gozar o dia do
brincar, é preciso que os pais questionem a atitude que é oferecer em excesso os
novos objetos de desejo da criança. É preciso que julguem porque se nas
brincadeiras tradicionais a fantasia se revela no brincar, nas modernas, como
nos games, a fantasia é pré-programada no roteiro dos jogos de computador. Fim
da brincadeira como mimésis, trabalho psíquico que exige que a criança invente
personagens, vista-os imaginariamente com as características que bem entender,
experiência que é substraída pelos jogos virtuais. O que acontece quando a
tecnologia é hegemônica nas formas do brincar?
Por isso
acredito que a verdadeira forma de resgatar o significado do dia do brincar é,
por parte dos pais, refletir sobre a importância de retomar a arte de contar
histórias (Walter Benjamin), gesto que inspira a imaginação da criança à prática
do brincar. Frente a emergência da tecnologia nos brinquedos, é preciso
estimular o uso daqueles feitos como arte pelas crianças, elaborados por suas
próprias mãos, hoje substituídas por artefatos da indústria cultural. Por parte
dos educadores, a brincadeira também deve ser um objeto de preocupação. Ela
cumpre seu papel pedagógico quando feita com intencionalidade, quando o jogo é
um modo de ensinar e aprender, a “isca”(Tânia Fortuna) para fisgar o interesse
do aluno, mas não de uma forma tradicional e autoritária, mas como espaço de
prazer e espontaneidade sem cair no hedonismo. O que significa que os adultos
devem redescobrir sua criança interior para ajudar a criança a comemorar seu dia
do brincar, não para agir como uma criança, mas para compreênde-la em suas ricas
dimensões.
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