As vésperas de mais um Dia Internacional dos Museus, vem do Memorial do Rio Grande do Sul o exemplo de mais um desserviço à cultura. Como se sabe, a recente saída do Prof. Voltaire Schilling da direção da instituição provocou uma grande repercussão. A indicação do competente César Prestes para a Secretaria da Cultura não tem outra função se não a de conter os ânimos do meio cultural, mostrando a sensibilidade da governadora-candidata com a área cultural, contornando politicamente o estrago feito pela ex-Secretária da Cultura Mônica Leal.
O problema é que logo após a saída de Voltaire Schilling, poucos se deram conta de que o site na Internet do Memorial do Rio Grande do Sul saiu do ar para reformas. Agora novamente no ar (www.memorial.rs.gov.br) pode-se ver o que significa a expressão violência simbólica, tal como a propõe Slavoj Zizek: foram retirados todos os mais de quarenta Cadernos de História, acervo inestimável de pesquisa que então estavam disponibilizados para consulta e reprodução. Trabalho original de toda a gestão de Voltaire Schilling no Memorial do RS, com autores consagrados do Rio Grande do Sul, foram simplesmente deletados! É surpreendente: um Memorial que apaga a sua memória!
O ato impõe uma reflexão neste Dia Internacional dos Museus. No mundo virtual, capaz de disseminar acervos para o mundo inteiro, pode-se eliminar em um piscar de olhos documentos. Está na hora dos museólogos e profissionais da memória darem-se conta do imenso poder de preservação e aniquilmento da memória que o uso da internet possibilita: se por um lado um trabalho exaustivo disponibiliza uma grande quantidade de documentos, gestos simples podem deletar em instantes acervos públicos. É disto que se trata: de quem é a responsabilidade pela manutenção virtual de nossos acervos digitais? Continuaremos a deixar nas mãos dos políticos de plantão o destino dos acervos e documentos virtuais ou seremos capazes de cobrar responsabilidades ?
O exemplo do Memorial do Rio Grande do Sul, é claro, reflete mais uma vez as lutas políticas no interior da Secretaria da Cultura e a sua necessidade de apagamento dos méritos da gestão anterior. A Secretária não gostou dos Cadernos, então tirem-nos do ar, eis o nosso equivalente jacobino de cortar as cabeças. Nada mais ditatorial!. E o público que acessava os documentos, como fica cara pálida?
O que resta a fazer neste Dia Internacional dos Museus? A primeira é que as entidades da memória devem se posicionar: a retirada de acervos virtuais deve ser considerada um crime, é roubo de um bem de uso coletivo. Quem coloca acervos no ar é responsável pela sua manutenção. A segunda é que não devemos permitir que as novas tecnologias continuem a servir os ditadores de plantão em nome do apagamento da memória. Estes fatos mostram que estamos diante do Crime Perfeito, o assassinato da memória sem a presença de pistas, um indicador da perversão dos tempos em que vivemos.
terça-feira, 18 de maio de 2010
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