Se você acha que critica sociológica de novela não serve para nada, pare agora de ler este artigo. Vou avisar mais uma vez: se você acha que tudo pode em termos de “licença poética”, pare agora de ler. Eu avisei.
A estréia de A vida da gente é destas pérolas da indústria cultural brasileira: não há dúvida da qualidade da sua produção e do trabalho de atores e diretores, mas quando o negócio é fazer um retrato da realidade, quanta diferença!
Vejamos: o par romântico mergulha em pleno inverno numa das lagoas no frio da serra gaúcha; a mocinha põe na bagagem um biquini entre as roupas para a ir a serra (!)e um ônibus antigo que você nunca viu na rodoviaria faz a ligação de Porto Alegre à região em instantes e voilá, eis a vida da gente como ela é!
Verdade seja dita: Jaime Monjardin é um cara honesto! Ele disse com todas as letras no Jornal do Almoço (26/9): “Não esperem continuidade na novela”, querendo dizer com isso que a nossa geografia será submetida aos critérios da chamada “licença poética”.
Licença poética uma ova! Essa é a forma reiterada de massificação de nossa cultura. A conquista da hegemonia na televisão tem um preço: a homogeneização da cultura, a padronização dos signos na televisão que não poupa ninguém. Há algo errado neste mundo onde tudo é sempre igual e onde sempre lhe dão mais do mesmo. Ele parece a realidade, mas não é: as cenas devem-se passar nas ruas chiques de Porto Alegre, ou nas paisagens paradisíacas da serra, pois para os roteiristas e produtores é o que o público quer ver, a nossa vida. Não, não é a nossa vida, é uma reconstrução inviesada dela.
No fundo, no fundo não é a nossa vida porque é a vida carioca que mais uma vez os roteiristas e autores querem retratar, com fachada gaúcha como pano de fundo. E dá-lhe um dia a dia sem expressões idiomáticas, com geografia que não corresponde ao real, com hábitos deslocados da terra apresentados como se fossem dela. A versão gaúcha proposta pela Globo é semelhante ao café descafeinado de que fala Slavoj Zizek: a imagem vendida não quer ofender ninguém e pede até que nem nos comprometamos com ela. Tudo é permitido a nós consumidores e podemos desfrutar de todas as belas imagens da serra gaúcha desde que desprovidas de toda a sua substância.
É a caracteristica da produção de mercadorias do capitalismo em que vivemos. Hoje, tudo o que nos cerca deve conter em si o remédio para os males que causa, diz Zizek. Você pode beber todo o café que quiser, já que ele é descafeinado, expressão de nosso panorama ideológico atual. Neste sistema você pode desfrutar das coisas desde que sem a sua essência e voilá ei-nos diante da serra gaúcha no inverno sem frio, mergulhando nus em lagos gelados com biquíni na bagagem para consumo em rede nacional. Nessa novela na serra ninguém treme do frio? Cadê o frio? É como o carro que você não precisa mais dirigir, e que numa tacada, tira todo o prazer que a direção provoca. Monjardin, menos....aqui nos comprometemos com a realidade sim: frio já!.Cadê o inverno gaúcho? Como diria Robin “santa enganação Batman!”
A estréia de A vida da gente é destas pérolas da indústria cultural brasileira: não há dúvida da qualidade da sua produção e do trabalho de atores e diretores, mas quando o negócio é fazer um retrato da realidade, quanta diferença!
Vejamos: o par romântico mergulha em pleno inverno numa das lagoas no frio da serra gaúcha; a mocinha põe na bagagem um biquini entre as roupas para a ir a serra (!)e um ônibus antigo que você nunca viu na rodoviaria faz a ligação de Porto Alegre à região em instantes e voilá, eis a vida da gente como ela é!
Verdade seja dita: Jaime Monjardin é um cara honesto! Ele disse com todas as letras no Jornal do Almoço (26/9): “Não esperem continuidade na novela”, querendo dizer com isso que a nossa geografia será submetida aos critérios da chamada “licença poética”.
Licença poética uma ova! Essa é a forma reiterada de massificação de nossa cultura. A conquista da hegemonia na televisão tem um preço: a homogeneização da cultura, a padronização dos signos na televisão que não poupa ninguém. Há algo errado neste mundo onde tudo é sempre igual e onde sempre lhe dão mais do mesmo. Ele parece a realidade, mas não é: as cenas devem-se passar nas ruas chiques de Porto Alegre, ou nas paisagens paradisíacas da serra, pois para os roteiristas e produtores é o que o público quer ver, a nossa vida. Não, não é a nossa vida, é uma reconstrução inviesada dela.
No fundo, no fundo não é a nossa vida porque é a vida carioca que mais uma vez os roteiristas e autores querem retratar, com fachada gaúcha como pano de fundo. E dá-lhe um dia a dia sem expressões idiomáticas, com geografia que não corresponde ao real, com hábitos deslocados da terra apresentados como se fossem dela. A versão gaúcha proposta pela Globo é semelhante ao café descafeinado de que fala Slavoj Zizek: a imagem vendida não quer ofender ninguém e pede até que nem nos comprometamos com ela. Tudo é permitido a nós consumidores e podemos desfrutar de todas as belas imagens da serra gaúcha desde que desprovidas de toda a sua substância.
É a caracteristica da produção de mercadorias do capitalismo em que vivemos. Hoje, tudo o que nos cerca deve conter em si o remédio para os males que causa, diz Zizek. Você pode beber todo o café que quiser, já que ele é descafeinado, expressão de nosso panorama ideológico atual. Neste sistema você pode desfrutar das coisas desde que sem a sua essência e voilá ei-nos diante da serra gaúcha no inverno sem frio, mergulhando nus em lagos gelados com biquíni na bagagem para consumo em rede nacional. Nessa novela na serra ninguém treme do frio? Cadê o frio? É como o carro que você não precisa mais dirigir, e que numa tacada, tira todo o prazer que a direção provoca. Monjardin, menos....aqui nos comprometemos com a realidade sim: frio já!.Cadê o inverno gaúcho? Como diria Robin “santa enganação Batman!”
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