sexta-feira, 30 de abril de 2010

Reflexões sobre o Dia do Trabalho

Preocupam-me duas questões para discussão pela passagem de mais um Dia do Trabalho. A primeira é relacionada ao fato de que nesta data, na América Latina, cerca de 7 milhões de jovens entre 15 e 24 anos não terão nada a comemorar, pelo simples fato de não estarem empregados. E no Brasil, onde parte significativa destes jovens é a mais instruída, inclusive freqüentando curso superior, estão condenados a passar os dias sem nenhum ofício, encarnando o desperdício de talento. Para Jean Maninat, Diretor Regional da OIT para a América Latina “ a taxa de desemprego dos jovens aumentou mais do que a dos adultos, enquanto diminuiu a sua participação nos mercados de trabalho”.

A segunda é relacionada ao fato de que a partir dos anos 80 pesquisadores como Roberto Castel apontam para uma onda de intensificação do trabalho. É a constatação de que o trabalhador está dispendiando mais energias para realizar seu trabalho. Tem-se exigido mais no trabalho, um empenho maior, seja físico ou intelectual. A manipulação do grau de intensidade do trabalho tem como objetivo elevar a produção, a aumentando resultados, mas é de fato um problema moral, o da superexploração da mão-de-obra. Sadi Dal Rosso, em “Mais Trabalho” (Boitempo, 2008) enumerou a base desta superexploração: aumento do ritmo e da velocidade de trabalho; acúmulo de atividades a serem executadas por um mesmo trabalhador; aumento das horas de trabalho e exigência de polivalência, flexibilidade e versatilidade como qualificações para o trabalho.

As duas questões são parcialmente ligadas. A intensificação do trabalho pode ser vista particularmente no Serviço Público. Com menos funcionários do que precisa e com recursos reduzidos em decorrência de sucessivas Reformas Administrativas, os trabalhadores do Serviço Público tem sido exigidos cada vez mais naquilo que se convencionou chamar de trabalho imaterial (André Gorz): maior necessidade de elaboração intelectual, de raciocínio rápido, de especialização (sem investimento do Estado), que exigem mais conhecimento e mais dedicação, mas também transformam-se em fonte de desgaste. Por outro lado, a impossibilidade cada vez maior de realização de concursos públicos, motivada pela necessidade de contenção de custos, faz com que uma geração de jovens em condições de prestar exames seja afastada de um dos mercados de trabalho potenciais, o Estado.

O trabalho é, antes de tudo, uma questão política da maior importância para nossa sociedade. Aos chefes de governo cabe a responsabilidade de evitar a superexploração de seus funcionários - que impede a qualidade dos serviços públicos - mediante abertura de concurso público, o que beneficiará também os jovens. Às lideranças políticas cabe a responsabilidade de construir políticas públicas para a ampliação das oportunidades de trabalho porque é mais difícil garantir a estabilidade de uma sociedade e a governabilidade democrática sem emprego.

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