quinta-feira, 15 de abril de 2010

Nos shoppings não se pode sentar

Foi estupefato que fiz uma inesquecível descoberta: nos shoppings não se pode sentar. A situação foi mais ou menos a seguinte: no dia 15/04, quinta-feira, as 20 horas, depois de duas horas esperando para tomar a vacina da gripe na Imune, loja deste Shopping, bastou sentar num canto da ala para descansar para descobrir a ira dos seguranças que dizem que não se pode sentar. No chão, para dizer a verdade.

Não adianta falar da anomalia que é esperar, na rede privada, duas horas de pé por uma vacina que o governo deveria fornecer – fornece a de má qualidade, que dá reação, porque é misturada com ferro - ativantes – informou-me gentilmente a médica do lugar. Em realidade, segundo ela, a vacina que chegou a rede privada é bem diferente e melhor do que a da rede pública, melhor porque tem somente antígenos e de quebra, inclui a vacina das gripes de inverno. Quer dizer, depender da rede pública significa mais vacinas e com mais reações. Disto resulta a obrigação de ir ao shopping se vacinar.

Daí a naturalidade com que encarei, nesta ultima quinta-feira, uma imensa fila para vacinar. Afinal, o governo fez questão de condenar pessoas de minha faixa etária - quarenta anos – a ficarem excluídas da vacina, o que significa, para hipocondríacos como eu, uma sentença de morte. Mas ficar numa fila cansa e ai, você quer sentar. Dezenas de pessoas, mães de família, pais, após um dia exaustivo de trabalho estavam se submetendo a este martírio. Todos reclamavam do atendimento, menos eu. Era sua forma de garantirem o mínimo risco para seus filhos e para si mesmos. Para aqueles que como eu já era excluídos das políticas públicas de vacinação, estava em vantagem. Então para que reclamar?.

Mas causou-me surpresa descobrir num momento de fraqueza que não se pude sentar no chão dos shoppings. Pior, justo você, que não está incomodando ninguem no shopping quando todos estão prestes a iniciar um conflito de proporções inimagináveis. Mas havia algo contra a própria natureza dos shoppings naquele gesto. Como se sabe, revisando a literatura, os shoppings nasceram com uma arquitetura cujo objetivo central é imitar as praças públicas – daí a expressão, praça de alimentação. Amplos ambientes, com a presença da luz natural, que simulam a experiência de uma praça. Nada mais contra a natureza da essência de um shopping, portanto, tal proibição, pois se nas praças reais sentamos no chão, nas artificiais também deveríamos poder fazer o mesmo. Não no Iguatemi. Universidades privadas como a Unisinos sabem da importância do seu cliente em se sentir a vontade e disponibilizam, em seus espaços, ambientes informais onde-se fica-se sob tapetes, com almofadas, numa ambiencia que lembra o lar.

No Iguatemi, não. Não existe pela segurança uma avaliação real das situações, existe a necessidade do cumprimento de uma ordem burocrática e dogmática que pode valer numa situação cotidiana mas nunca numa situação extraordinária como aquela, já que a fila era imensa, o tempo de espera passava de duas horas, e não havia lugares para sentar. Imaginei uma série de atividades que o segurança dos shoppings poderia ser encarregar de fazer: evitar a entrada de meliantes no interior do shopping, evitar assaltos ou coisas do gênero. Ou ainda melhor, comunicar a administração dos problemas vividos pelo gerente da Imune: evitar as discussões e ameças, evitar os enfrentamentos, acalmar os ânimos, pedindo calma a todos, ajundando a organizar a fila. Mas tirar alguém que havia se encostado no chão para descansar, por favor, nunca me passou pela cabeça. Nunca me passou pela cabeça que, frente a clientes irritados no final de um dia e sob imenso stress, fosse função da segurança assumir o papel de estopim de conflitos justamente com aquele que não estava incomodando ninguém.

Para quem viu o shopping ser construido e o frequenta desde sua inauguração foi um imenso desencanto. Sim, foi isso que aquele segurança que atendeu a ocorrência do homem sentado no chão do shoppig as 20 horas do dia 15 de abril fez, fez a gentileza de acabar com a imagem que construi daquele shopping. Como diz o marketing, imagem é tudo. Submeteu seu cliente a uma situação duplamente humilhante: não bastasse ser submetido a uma fila que traz para um ambiente asséptico, as características de nossos piores serviços públicos, ficou a imagem de um segurança que sob a desculpa de que não poderia me deixar quieto no meu canto, preferiu ampliar o conflito trazendo uma cadeira própria para deficientes físicos. O gesto, visto como ofensivo pelas pessoas que assistiram a cena - afinal haviam dezenas de mães que estavam com seus filhos, idosos , que é claro estavam de pé e mereciam muito mais do que eu aquela atençao, ficaram estupefatas e terão guardado na memória a cena que presenciaram. O segurança do shopping perdeu a oportunidade de colaborar com uma situação dificil que estava ocorrendo numa ala do shopping, preferindo acentuar o conflito, provocando ainda mais a ira dos demais presentes.

Quando a administração do shopping encontrar meios de orientar melhor seus funcionarios, evitará que formadores de opinião coloquem textos como este que escrevo agora em seus blogs. Quando a administraçaõ do shopping perceber que clinicas são clientes especiais e preferenciais, que merecem estar num shopping, mas que shoppings devem acompanhar a prestação de serviços que fazem, auxiliando, se houver necessidade, pois senão terão uma bomba de efeito retardado, então o shopping estará administrando melhor seus serviços. Você vai a um shopping para consumir, e não ser humilhado. Foi o que aconteceu. Do jeito que vai, o Iguatemi está cada vez mais distante de ter o "estilo de seus clientes."

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