quarta-feira, 2 de junho de 2010

Onde foi parar a memória?




A homenagem do Vereador João Dib ao Prefeito de Porto Alegre Loureiro da Silva é comovente por ser a demonstração do status atual da memória em nossa sociedade. Na sociedade fugaz da informação, não há tempo para homenagear nossos antepassados. Poucas pessoas interromperam seu dia para acompanhar João Dib em sua homenagem. Mas ele estava lá e com ele parte da responsabilidade da sociedade portoalegrense com seu passado não passou em vão.
O olhar atento de João Dib tem razão de ser. Loureiro da Silva foi um governante excepcional. Figura pública que possibilitou a feição moderna da capital, seu conjunto de obras, realizados em dois governos, resultou em transformações que ainda são visiveis para todos: o Arroio Dilúvio, a Assis Brasil, entre tantas obras, entraram na vida cotidiana dos portoalegrenses por sua obra. E por esta razão, desapareceram, como acontece com os fatos do passado, totalmente integradas ao cotidiano da cidade. Pois, para quem é recém chegado, é exatamente isto, a sensação de que sempre estiveram lá, o que não acontece.

Alias, é justamente pelo contraste de uma sociedade antiga e que não conheceu as transformações urbanas de Loureiro e uma sociedade atual, para quem suas inovações perdem-se no dia a dia, é que a cena deve ser valorizada. Pois o que está aí é merito dos que vieram antes e foram responsaveis, contra tudo e contra todos, pela construção de políticas públicas. Inovadoras, no caso de Loureiro. Avançadas, no caso do Dilúvio; urbanisticamente fundamentais, no caso da Assis Brasil. Loureiro, que está ali na frente da Cãmara, com qual dialogou, diante de obra que leva seu nome, ainda assim não consegue chamar a atenção do presente pelas obras que fez no passado. Mas sua estátua está lá, e de certa forma ela diz a esta mesma sociedade que problemas urbanos requerem soluções urbanas; o cenário natural tem um destino cruel, a de ser transformada pela ação humana. Com Loureiro, foi para melhor. Nem sempre é assim.


Loureiro da Silva teve uma visão de futuro insuperável para a cidade e que poucos administradores públicos tem. Que tem deixado a marca nas gerações políticas que seguiram, foi fundamental para que seu projeto continuasse de pé na capital. João Dib, que assumiu a Prefeitura inspirado em sua gestão, jamais abandonou a influência do pensamento de seu mestre. Reconhece seu valor em seus discursos, enaltece-o. Porquê? Porque precisamos desesperadamente de exemplos na política, na gestão pública. O exemplo sempre tem uma função pedagógica, sempre tem uma função educativa. Ele mostra o que é bom e ajuda-nos a diferenciar do que é mau; mostra que frente a limites, é preciso a superação, inclusive nas formas de governo; indica que cada geração tem uma responsabilidade com o futuro - daí o planejamento - e com o passado - jamais esquecer seus antepassados.

No mundo em que vivemos, parece que não há mais herança política. Nasce-se político, emerge-se por mágica da força dos meios de comunicação. Em realidade, a tradição ainda é uma força atuante, e uma geração política tem o que dizer a geração política seguinte. Por isso a cena tem sua importância. Em realidade, são duas gerações, e não apenas uma, de fazer política na foto. E saber reverenciar o legado é o minimo que se pede de dignidade aos políticos atuais.

A memória está por entre os fios, e com ela, a memória política. A razão deve ser buscada numa sociedade baseada na instantaneidade da informação que faz o novo perecer rapidamente frente ao mais-novo. A transmissão da memória é tão importante quanto a transmissão do saber. È preciso saber distinguir o que, por superfluo, merece ser esquecido daquilo que, por fundamental, merece ser lembrado.
O que vale para a memória social vale para a memória política. Tradição não é sinonimo de velho ou arcaico. Tradição significa que temos um elo entre o presente e o passado. O gesto de homenagear de Dib merece ser visto pela grandeza do homem público que não esquece quem são parte integrante de seu projeto, de sua memória. De que principalmente em política, nada é feito sozinho e que somos sempre devedores do legado de alguém.


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