sábado, 6 de março de 2010

DOSSIE VOLTAIRE SCHILLING III - O começo da crítica a politica cultural de Yeda

Artigo publicado por Luis Paulo Vasconcellos em Zero Hora Cultura 2009



“Desde quando faxina é cultura?


A secretária de Estado da Cultura - e, por tabela, a governadora também - precisam saber que “a intenção de usar a Cultura para promover a inclusão social” é picaretagem, demagogia ou, para ser um pouquinho mais erudito, uma falácia. Se elas pensam que comovem a sociedade - olha como elas são boazinhas, como estão preocupadas com os pobrezinhos!… - devem logo logo tomar consciência de que a sociedade, pelo menos a parcela da sociedade minimamente culta, abomina essa maquiagem com a qual o Governo do Estado conspira contra uma verdadeira política cultural.

É claro, cultura é um termo genérico demais, sob o qual cabe desde o Porto Alegre em Cena ou o Museu Iberê Camargo, até “as ações sociais junto às áreas de educação, segurança e saúde”. E isto é cultura? - pergunto eu. Porque os governos têm sido incompetentes e a sociedade refratária à miséria que vai tomando conta das sinaleiras de Porto Alegre, agora a secretária da Cultura tem que brincar de fada madrinha e promover a troca de “armas de brinquedo” por livros? Que livros, minha senhora? E as armas verdadeiras, o que fazemos com elas? Continuarão sendo usadas em assaltos? Inclusive a livrarias?

E o que dizer sobre o projeto Hip-hop e Funk? Uma mostra competitiva de grupos com Oficinas de rap e grafite. Gente, nem no pior dos governos populistas se promoveu esse tipo de coisa.
Tem ainda a limpeza dos monumentos históricos e prédios tombados. Um dia no semestre. Em agosto. E desde quando faxina é cultura? E os projetos para a dança, para as artes plásticas, para o teatro, para a música, para a memória cultural, para o cinema, para a literatura? - ah, não, a literatura está contemplada no projeto das tais bancas montáveis em praças de cidades para incentivar a leitura. E sob essa intenção caridosa esconde-se toda a promiscuidade de uma política que não passa de esmola, se é que chega a tanto.

Quando o governador Rigotto tomou posse, publiquei na revista Aplauso uma carta em que dizia: “Se a um governo responsável cumpre, por um lado, reconhecer, incentivar e cultivar as manifestações culturais do povo, por outro, deve necessariamente valorizar seus artistas e intelectuais, porque é através de suas obras que a cultura faz algum sentido para a sociedade. O desenrolar da história serve sempre de modelo. Assim, não será demais recordar o papel da democracia na consolidação da tragédia grega, o da igreja na renovação da cena medieval, o do mecenato na transformação da arquitetura teatral renascentista, para ficarmos com alguns exemplos tirados ao acaso da história do teatro.

Eurípedes, Shakespeare, Molière, Ibsen, Beckett e O´Neill, para citar apenas alguns dos grandes, resultaram de políticas culturais definidas, não necessariamente ideais, mas de qualquer modo definidas, que reconheciam no artista um elo de ligação fundamental entre governo e povo, entre sociedade e cultura”.

Senhora, secretária: falácia, segundo o Aurélio, quer dizer “qualidade ou caráter de falaz”. Falaz, por sua vez, quer dizer, “1. enganador, ardiloso, fraudulento; 2. vão, quimérico, ilusório, enganoso. No texto do verbete, o exemplo usado é de Euclides da Cunha, e diz: “Será o eterno tatear entre miragens de um processo falaz e duvidoso”. Exatamente como é hoje o projeto de política cultural do Estado.”
Luiz Paulo Vasconcellos
Ator, diretor, professor, poeta e coordenador de Artes Cênicas da Secretaria Municipal de Cultura de POA.

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