sábado, 2 de outubro de 2010

A Infraero Mata

Gilles Lipovetsky, na obra Tela Total (Editora Sulina), diz que o espetáculo de nossa época é ver telas do cinema espalhadas pelo mundo. Da televisão ao telefone celular, do computador ao telefone e de restaurantes à aeroportos “mesmo confrontado com desafios de produção, o cinema continua sendo uma arte de um poderoso dinamismo, cuja criatividade não está de modo algum em declínio. O tudo-tela não é o túmulo do cinema: mais do que nunca este demonstra inventividade, diversidade, vitalidade”.

Menos em Porto Alegre, desde que uma decisão oficial da Infraero determinou o fechamento do Aeroguion. É mais um cinema que morre na capital. Localizado no Aeroporto Salgado Filho, foi o primeiro complexo de cinema a se localizar no interior de um aeroporto na América Latina, numa época em que o cinema já se tornou parte da paisagem dos grandes aeroportos internacionais. Possuía uma programação de qualidade e público cativo mantido pelos “atrasos” constantes de nossas companhias aéreas e pelo inúmeros fechamentos do aeroporto por mal tempo. O cinema no aeroporto significou, além de cultura, diminuição de sofrimento de centenas de passageiros.

Disponibilizar a área de um cinema para caixas bancários e órgãos que poderiam ficar no aeroporto velho é o típico exemplo de como é tratada a cultura em nosso país. Michel Foucault, numa conferência de 1979 nos Estados Unidos, explicava que a função da critica é vigiar os abusos de poder da racionalidade política. Vendo a atitude da Infraero, o que se observa é que na base do argumento está a idéia da sua desresponsabilização com a cultura cuja causa é o pouco conhecimento de seus gestores do alcance real de um governo. Numa palavra, o que falta a Infraero é visão sistêmica de sua função.

O fato é que o cinema cult é o único que dispomos para enfrentar o cinemão americano. Sem sua contribuição, obras do cinema independente jamais chegarão ao público. Com o fechamento do Aeroguion, perdem todos. Sempre coube a área governamental proteger os gêneros que compõem a cultura erudita, como o cinema e a Infraero tem sim uma responsabilidade: colaborar, na sua esfera de influência, para a consolidação da cultura, no caso, cinematográfica. Cabem aos gestores públicos pensar orgânica e integradamente a área cultural e entender a contribuição que podem e devem dar as necessidades mais agudas da área cultural com as políticas públicas, em que, até prova em contrário, a Infraero foi incapaz de fazer

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Viaduto da Borges e Smic


A SMIC revelou o projeto de criar uma Parceria Público Privada para administrar o Viaduto Otávio Rocha. A iniciativa irá retirar os atuais permissionários que estão em parte em dívida com a Secretaria, para entregar a uma empresa a concessão dos espaços do viaduto por vinte anos. A decisão revoga a posição assumida por José Fogaça em dezembro de 2008, quando o então prefeito reconheceu, em entrevista ao Jornal do Centro, que aprovava a renegociação das dívidas com a SMIC ”Os permissionários do Viaduto Otávio Rocha estão em processo de negociação com a Secretaria Municipal de Indústria e Comércio, para fins de parcelamento do total da dívida das 27 lojas, no valor de R$ 115.130,69. (Jornal do Centro, Edição 129, dezembro de 2008). Hoje os valores chegam a mais de 200 mil, segundo a SMIC.

Ems sua defesa, os permissionários organizaram um movimento inédito na capital, o Movimento de Revitalização e Humanização do Viaduto Otávio Rocha. Para seus integrantes, a nova política vai na contramão das políticas de preservação do patrimônio imaterial da própria Prefeitura: ali encontram-se profissões e profissionais antigos da capital que ainda sobrevivem, como ourives, sapateiros e relojoeiros, e que prestam seus serviços a cidade, entre outros profissionais. O Viaduto da Borges não é apenas um viaduto, é lugar de cultura imaterial, encarnada em seus trabalhadores. Eles tem dívidas, é verdade, mas estão dispostos a pagar. Mais, tem o apoio de outros movimentos sociais e entidades que defendem a preservação dos moradores antigos no lugar. Sua luta envolve a preservação de seu espaço e de sua cultura naquele espaço. Se a proposta da SMIC vingar, um movimento social e uma cultura serão extintos. É disso que se trata. E justamente dos trabalhadores que tem lutado pela valorização do Viaduto, daí a injustiça. É deles a proposta de realização de atividades culturais para reaproveitamento turístico e econômico do viaduto, com os artesãos que lá se encontram. Não seria uma boa idéia?
Publicado no Jornal do Comércio de 14 de setembro de 2010.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Somos todos lixo


Há cerca de um ano, baixei por um plano de saúde para uma cirurgia no Hospital da PUC. A Emergência já era lotada: pacientes do Interior e da Capital disputavam comigo a atenção dos médicos. Mas, se podemos dizer assim, ainda era uma situação “administrável”: recebi a atenção necessária, a identificação dos sinais de diagnóstico foi feita com cuidado, os exames foram realizados de acordo com o protocolo, a determinação para a intervenção cirúrgica tomada e o leito providenciado. A anestesista tratou de me tranquilizar: pode-se dizer que nesse tempo ainda era possível ser tratado como um ser humano pelo sistema de saúde. Fui salvo.


Hoje esta realidade está cada vez mais distante.É a imagem que fica ao vermos a reportagem de Zero Hora (25/09). Mas não se trata apenas de uma situação de calamidade do sistema de saúde pública e privada, como aponta o Simers. Por que centenas de médicos e enfermeiros esforçam-se para cumprir sua missão e fracassam nesta tarefa? A razão, para Robert Kurz, deve ser buscada no fato de que a crise da saúde é parte integrante da reprodução atual do capital, que atinge agora camadas sociais que até então haviam sido poupadas, como a classe média. A reprodução capitalista é perversa e caracterizada, entre outras coisas, pela defesa de um estado “magro”: o fim do Estado social se dá menos pela redução de verbas e mais pelos investimentos aquém dos necessários, desproporcionais às reais necessidades de saúde e educação. É a morte lenta.


Zygmund Baumann destaca que esta é a forma de o capital lidar com aquilo que ele denomina de “lixo humano”: “Todo modelo de ordem é seletivo e exige que se cortem, aparem, segreguem, separem ou extirpem as partes da matéria-prima humana que sejam inadequadas para a nova ordem, incapazes ou desprezadas para o preenchimento de qualquer de seus nichos. Na outra ponta do processo de construção da ordem, essas partes emergem como ‘lixo’, distintas do produto pretendido, considerado ‘útil’”. O desmantelamento do sistema de saúde é a forma dissimulada e perversa do capital de dar cabo dessa grande quantidade de “lixo” que para ele somos nós, processo de aniquilação de certo número de seres humanos pela negação de acesso ao sistema de saúde. Numa palavra, a saúde transformou-se na nossa Matrix.


Quando havia ricos e pobres, o acesso aos leitos se dava pelos planos de saúde. Agora, quando desaparecem as diferenças estruturais de classe na estrutura de reprodução capitalista, somente os muito ricos ocupam os leitos dos hospitais, enquanto que o resto disputa o que sobrar. A “solução barata” encontrada pelos governos recentes, na melhor das hipóteses, conseguiu uma miséria generalizada. Cabe aos cidadãos, às vésperas das eleições, prestar atenção nas propostas para a reforma da saúde pública e privada e, aos candidatos, formular suas propostas com conteúdo


Publicado em Zero Hora em 26/08/2010

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Hélio de La Peña está errado!

A defesa de Hélio de La Penã da liberdade de usar o humor no período do horário eleitoral está errada e é um desserviço à democracia. Ao contestar a Lei 9504/87, o humorista esquece que, se “o humor é necessário para a vida” (“Ludus est necessarius ad conversationem humanae vitae) como prega São Tomás de Aquino, um “bem útil” ao homem e a sociedade, esquece que o mesmo filósofo também afirma que o humor pode ser um vício por excesso, ou seja, por falta de controle e mediocridade no seu uso. São Tomás queria dizer com isso que aqueles que exageram no brincar são inoportunos, estão fora do lugar, por quererem fazer rir constantemente em momentos sérios e por isso acreditava que a virtude estava no uso conveniente do humor para a construção da vida.

Ora, não é isso que fazem nossos humoristas, salvo raras exceções, quando se trata de política. O poder dos programas de humor está no espaço que ocupam nos veículos de comunicação e que lhes dá a oportunidade de colaborarem na construção (ou destruição) de uma determinada visão de política na sociedade - a regra geral é a tendência do humor brasileiro de reforçar o preconceito para com a política. “Política: fique longe disso” é a mensagem que seus programas carregam, nada mais perigoso para a democracia, que vive da participação popular. Qual a origem deste poder? Médium vem do latim e significa “aquele que está a meio”. A comunicação, situando-se a meio caminho entre as instituições políticas e a sociedade, tem papel fundamental para a formação da opinião pública. Se o humor atribui significados negativos à política – não estamos dizendo que não existem maus políticos, que les hay, eles hay – ele contribui para criar o entendimento compartilhado de que toda a política é algo vil e infame, um problema do ponto de vista da democracia, da defesa das instituições públicas e dos agentes públicos que buscam construir a boa política.


Este é um momento especial para a cidadania. A política necessita da comunicação sim, mas não da comunicação superficial, limitada a um humor escrachante, previsível e alienante, mas de uma comunicação definida culturalmente, baseada na troca de informações. O papel da comunicação deve ser o da manutenção dos vínculos da comunidade à idéia de cidadania e participação. O humor atua na contramão desse sentido, já que incentiva a não participação, a rejeição e a negação da política - ainda que ela tenha todos os problemas que conhecemos, sem ela diminuímos as chances de ter uma sociedade melhor. A sociedade, a “receptora” de toda esta informação, só pode concordar com os humoristas. É aí que reside o problema.

Os limites dado ao humor pela Lei visam reduzir a capacidade de alienação que existe nos veículos de comunicação. Aliás, vem do interior da própria televisão a crítica ao que se tornou o veículo. Aracy Balabanian resumiu a questão: “tudo ficou tecnicamente melhor, mas a televisão sofreu um empobrecimento(...)A TV se esvaziou” (Folha de São Paulo, 8/8/2010). Queiram ou não os autores de humor, os textos que são escritos para os programas de humor estão longe de ser o que se poderia chamar de “humor inteligente”, e ao contrário, passam mensagens subliminares que provocam alienação.

O debate político não se faz com piadas, mas com idéias e programas humorísticos não esclarecem a população, ao contrário, reproduzem preconceitos e a afastam do debate público. Passado o horário eleitoral, os humoristas poderão voltar a sua prática de sempre, falar mal dos políticos sem chegar a lugar algum, mas pelo menos, a democracia não terá sido vilipendiada. O público pode conhecer os programas humorísticos, mas a presença cada vez maior de um humor que apela aos sentimentos mais primitivos ainda é prova de que ele pouco tem a contribuir com a construção de cidadãos críticos. Há bons e maus humoristas, como há bons e maus políticos, mas o mau humor político é como a má política, é um desserviço à democracia e deve ser combatido. Não é hora de riso, mas de atitude séria: é o futuro da democracia que está em questão no momento do voto.

O dia do patrimonio histórico, 17 de agosto


No dia 17 de agosto comemora-se o Dia do Patrimônio Histórico Nacional. A data assinala o nascimento do historiador e jornalista Rodrigo Mello Franco de Andrade (1898-1969) e foi instituída por meio da Lei nº 378, de 1937. Nesta época, governo Getúlio Vargas criou o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), onde o historiador trabalhou até o fim da vida, e a data passou a ser celebrada a partir de 1998, quando o célebre defensor do patrimônio faria 100 anos. A importância de celebrá-la, no entanto, não está somente no fato de valorizar as coisas tangíveis e intangíveis caracteriza uma população, mas principalmente, por atualizar a problemática da memória no campo social.

A preocupação com a centralidade da memória na cultura das sociedades ocidentais é um dos fenômenos mais surpreendentes dos últimos vinte anos, que assistiram a uma profusão de memoriais, museus, centros de memória e instituições voltadas para a memória, no âmbito público e privado. O que é um paradoxo, já que a cultura moderna sempre foi voltada para o futuro, como se vê no estalinismo às artes do século XX. Na origem deste paradoxo está a emergência de um galopante processo de globalização da memória. Iniciado nos anos 60 como conseqüência do processo de descolonização e dos novos movimentos sociais, a memória transformou-se em elemento chave na organização social e sofreu, nos anos 80, um reforço com os discursos sobre a memória do Holocausto. A memória está, de uma vez por todas, na agenda atual.

O que também é um problema, haja vista que o marketing tem tido cada vez mais êxito em transformar a memória em produto da indústria cultural. Ela foi transformada em produto a ser vendido pela industria cultural, em reação aquilo que a sociologia da cultura alemã, especialmente com Gerhard Schulze, denominou de “Erlebnisgesellschaft”, literalmente, sociedade da vivência. Agora, a indústria cultural não trata apenas vender a idéia de que vivemos uma sociedade que privilegia experiências intensas, porém superficiais, orientadas para a felicidade instantânea, porém com rápido consumo de bens. Agora, trata-se de reagir a essa cultura em que bens que tem história, tradições que são milenares e espaços são vendidos pelo seu tempo de existência. O problema desta forma de abordagem é a despolitização que faz da memória, deshistoricização que mata pela memória a própria memória.

No Dia do Patrimôno deve servir para defender que a memória é uma questão política e recusar as visões que tratam a memória como mercadoria. Dos discursos sobre a África do Sul depois do Apartheid à questão dos desaparecidos políticos na América Latina, a discussão da memória e do patrimônio deve em primeiro lugar, servir para dizer quem de fato somos nós.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Ervino Besson, um homem simples


A morte prematura de Ervino Besson provoca tristeza no legislativo de Porto Alegre. Vereador dedicado à cidade, quando não se reelegeu, manifestações de pesar vieram de todos os campos partidários. A razão é que Besson era valorizado pela sua simplicidade. Nunca renegou que sempre foi um padeiro, um homem simples que chegou à Câmara Municipal. Esta simplicidade não impediu que legasse projetos de valor, como o Banco Municipal de Remédios, para reaproveitar medicamentos ou as medidas que desenvolveu contra o desperdício de alimentos. Para Besson, a grandeza da política estava em como fazemos as pequenas coisas.

Talvez por isso valorizasse imensamente a educação. Defendia a responsabilidade do legislativo para com a educação política dos jovens. Participou de várias Sessões Plenárias do Estudante e vibrava com isso talvez porque, de alguma maneira, via seu olhar refletido no olhar daquelas crianças que visitavam o parlamento. Lembrava com entusiasmo a herança de Leonel Brizola na educação e sua experiência nas brizoletas, casas de madeira simples onde sua geração aprendeu as primeiras letras. Ensinava aos jovens a importância de participar da vida pública sempre com muita simplicidade.

Maso que significa ser um homem simples? Significa preferir o aperto de mão à internet, a conversa olho no olho ao chat, o sorriso às redes sociais. Num tempo em que a política transformou-se em indústria, ele era um artesão. Num tempo em que as megacampanhas ganham eleições, preferia a conversa miúda com o eleitor. Num tempo onde prevalece a midialização da política, preferia a atuação direta na comunidade. Num tempo em que o trabalho intelectual é supervalorizado, ele se definia como um trabalhador manual. Que sua memória seja a de que podemos encontrar a profundidade do mundo nas coisas
simples.

Publicado no Jornal do Comércio em 21/07/2010

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O fim da infância

Está circulando na internet (http://primeirainfancia.org.br/2010/05/carta-da-rnpi-para-os-parlamentares/) a carta elaborada pela Rede Nacional Primeira Infância, formada por 74 organizações da sociedade civil, do governo, do setor privado, de organizações multilaterais e outras redes de organizações, dirigida aos deputados e senadores da República solicitando o reexame do dispositivo constante do PL 6.755/2010 (original PLS 414/2008) que estabelece em seu artigo 6º o dever dos pais ou responsáveis de efetuar a matrícula dos menores a partir dos cinco anos no Ensino Fundamental. A idade é reiterada no artigo 32 do mesmo projeto, que diz que o Ensino Fundamental, com duração de nove anos, inicia-se aos cinco anos de idade.

Tais entidades questionam o projeto de lei porque entendem que ele implica o fim do direito de ser criança. Para tais entidades, trata-se de um verdadeiro roubo da infância, na medida em que a criança tem o direito de viver segundo suas características físicas, biológicas e psicológicas. Este direito é roubado porque “começar a primeira série do Ensino Fundamental aos cinco anos e um dia equivale a perder a infância, a criança impedida de ser criança, é proibida de brincar”.

A Rede Nacional da Primeira Infância tem razão em sua luta. Os educadores há muito tempo defendem a expansão da educação pré-escolar e não a inclusão das crianças de cinco anos na educação fundamental. É consenso dos educadores que a educação pré-escolar é a que atende de forma mais adequada a uma pedagogia da primeira infância, pois é a que mais consegue preservar “o direito de brincar” da criança. Para eles, a inclusão de crianças de cinco anos na primeira série só fará mal a elas, pois, do jeito que está o sistema, a insere de forma inadequada no Ensino Fundamental. Além disso, a sociedade e a família não ganham nada diminuindo o período da infância e suprimindo um ano de educação pré-escolar, já que só há consequências perversas com tal dispositivo: amplia-se a produção de estresse infantil devido aos problemas de inadequação aos longos horários, ou os causados pelo uso das cadeiras escolares e até mesmo pelo aumento da reprovação. Já baixamos o limite de acesso à educação de sete para seis anos, e agora, querem cinco. Onde isso vai parar?

A luta é motivo para reflexão. Ver educadores em um movimento político sempre é motivo de contentamento. Mais ainda quando liderados por Vidal Didonet, um dos maiores especialistas em educação infantil e cuja luta mostra que os professores não estão dispostos a abandonar a defesa da educação. Mostra que os professores são capazes de se mobilizar e rapidamente tentar reverter o impacto de más políticas públicas. Que o campo destas políticas seja ainda um lugar de lutas sociais, é um alento. Num mundo em que cada vez mais se afirma o desencanto dos educadores com a política, observar como eles são capazes de se mobilizar em defesa do respeito às características da infância, em defesa da educação de qualidade e valorizando as instituições democráticas mostra que os movimentos sociais ainda têm uma grande contribuição a dar quando se adentra no século 21.

Publicado em Zero Hora, 02/7/2010