segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O dia do patrimonio histórico, 17 de agosto


No dia 17 de agosto comemora-se o Dia do Patrimônio Histórico Nacional. A data assinala o nascimento do historiador e jornalista Rodrigo Mello Franco de Andrade (1898-1969) e foi instituída por meio da Lei nº 378, de 1937. Nesta época, governo Getúlio Vargas criou o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), onde o historiador trabalhou até o fim da vida, e a data passou a ser celebrada a partir de 1998, quando o célebre defensor do patrimônio faria 100 anos. A importância de celebrá-la, no entanto, não está somente no fato de valorizar as coisas tangíveis e intangíveis caracteriza uma população, mas principalmente, por atualizar a problemática da memória no campo social.

A preocupação com a centralidade da memória na cultura das sociedades ocidentais é um dos fenômenos mais surpreendentes dos últimos vinte anos, que assistiram a uma profusão de memoriais, museus, centros de memória e instituições voltadas para a memória, no âmbito público e privado. O que é um paradoxo, já que a cultura moderna sempre foi voltada para o futuro, como se vê no estalinismo às artes do século XX. Na origem deste paradoxo está a emergência de um galopante processo de globalização da memória. Iniciado nos anos 60 como conseqüência do processo de descolonização e dos novos movimentos sociais, a memória transformou-se em elemento chave na organização social e sofreu, nos anos 80, um reforço com os discursos sobre a memória do Holocausto. A memória está, de uma vez por todas, na agenda atual.

O que também é um problema, haja vista que o marketing tem tido cada vez mais êxito em transformar a memória em produto da indústria cultural. Ela foi transformada em produto a ser vendido pela industria cultural, em reação aquilo que a sociologia da cultura alemã, especialmente com Gerhard Schulze, denominou de “Erlebnisgesellschaft”, literalmente, sociedade da vivência. Agora, a indústria cultural não trata apenas vender a idéia de que vivemos uma sociedade que privilegia experiências intensas, porém superficiais, orientadas para a felicidade instantânea, porém com rápido consumo de bens. Agora, trata-se de reagir a essa cultura em que bens que tem história, tradições que são milenares e espaços são vendidos pelo seu tempo de existência. O problema desta forma de abordagem é a despolitização que faz da memória, deshistoricização que mata pela memória a própria memória.

No Dia do Patrimôno deve servir para defender que a memória é uma questão política e recusar as visões que tratam a memória como mercadoria. Dos discursos sobre a África do Sul depois do Apartheid à questão dos desaparecidos políticos na América Latina, a discussão da memória e do patrimônio deve em primeiro lugar, servir para dizer quem de fato somos nós.

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