quarta-feira, 29 de maio de 2013

O Dia Internacional do Brincar

Dia 28 de maio é o Dia Internacional do Brincar. Instituído pela Unesco com o objetivo de resgatar e incentivar o brincar na infância e a importância da brincadeira como momento cultural, seu pressuposto básico é que brincar é aprender. Direito consagrado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, a data nos impõe uma reflexão: como comemorá-la quando as praças estão vazias devido a violência, seus brinquedos sucateados e as necessidades de brincar da infância parecem reduzir-se a satisfação proporcionada por brinquedos oferecidos pelo mercado? A verdade é que a memória do brincar encontra-se esmaecida pelo excesso de estímulos que fazemos à infância, produto dos inúmeros brinquedos à disposição, mercadorias que impelem as crianças a adentrar cada vez mais cedo na lógica consumista e adquirir o hábito de substituir seus brinquedos como uma mercadoria qualquer.

O brincar, a brincadeira e o brinquedo são integrantes de um mesmo universo de acesso da criança ao mundo mas, no atual, a infância e o brincar são vítimas da artificialização de nossa existência. As novas configurações do brincar adaptam-se aos novos tempos mas a medida em que as crianças passam a exigir cada vez mais brinquedos novos, deixam escapar a dimensão do sonho e do devaneio que a brincadeira possibilita. O que é revolucionário no brincar é que para fazê-lo, é preciso suspender o tempo, praticar novas sociabilidades, o que jogos virtuais roubam das crianças. Para que as crianças possam gozar o dia do brincar, é preciso que os pais questionem a atitude que é oferecer em excesso os novos objetos de desejo da criança. É preciso que julguem porque se nas brincadeiras tradicionais a fantasia se revela no brincar, nas modernas, como nos games, a fantasia é pré-programada no roteiro dos jogos de computador. Fim da brincadeira como mimésis, trabalho psíquico que exige que a criança invente personagens, vista-os imaginariamente com as características que bem entender, experiência que é substraída pelos jogos virtuais. O que acontece quando a tecnologia é hegemônica nas formas do brincar?

Por isso acredito que a verdadeira forma de resgatar o significado do dia do brincar é, por parte dos pais, refletir sobre a importância de retomar a arte de contar histórias (Walter Benjamin), gesto que inspira a imaginação da criança à prática do brincar. Frente a emergência da tecnologia nos brinquedos, é preciso estimular o uso daqueles feitos como arte pelas crianças, elaborados por suas próprias mãos, hoje substituídas por artefatos da indústria cultural. Por parte dos educadores, a brincadeira também deve ser um objeto de preocupação. Ela cumpre seu papel pedagógico quando feita com intencionalidade, quando o jogo é um modo de ensinar e aprender, a “isca”(Tânia Fortuna) para fisgar o interesse do aluno, mas não de uma forma tradicional e autoritária, mas como espaço de prazer e espontaneidade sem cair no hedonismo. O que significa que os adultos devem redescobrir sua criança interior para ajudar a criança a comemorar seu dia do brincar, não para agir como uma criança, mas para compreênde-la em suas ricas dimensões.

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