sábado, 2 de outubro de 2010

A invenção da política


Este domingo é o dia da eleição. Todos aguardamos muito pela chegada deste dia. As escolas fizeram debates entre seus alunos. No trabalho, a política foi tema de discussões acalouradas. Em casa, a discussão sobre política mobilizou pais e filhos. Na imprensa, as eleições foram objeto de uma das mais importantes coberturas–investigativas de que se tem notícia: vimos a exaustão informações sobre atores políticos, sua história, suas idéias, seus méritos e suas contradições. Numa época em que se afirma o desinteresse com a política, como explicar tamanha vitalidade de interesse e participação dos cidadãos?

Para Francis Wolff, especialista em filosofia antiga, a diferença ente as sociedades primitivas e a nossa está no fato de as primeiras são comunidades que evitam a política, resistindo com suas forças a tudo aquilo que se assemelhe ao poder, consequência da busca da chamada Terra Sem Mal “como se o mal aqui embaixo fosse a política”. Ao contrário, das sociedades gregas até a nossa desenvolveu-se um sentimento de amor pela política, expressão de sociedades que organizam-se politicamente e vivem da política. Diz o historiador J.-P. Vernant: “É a emergência de um campo privilegiado em que o homem se percebe capaz de regrar por ele mesmo, através de uma atividade de reflexão, os problemas que lhe concernem, depois de debates e discussões com seus pares”.

Inventar o político é assim fazer com que não haja outro poder além daquele que a própria comunidade exerce sobre si mesma, inventando ao mesmo tempo os meios para que ela tome o poder para enfrentar o mundo. Por esta razão, para Aristóteles, a política é o gênero de vida mais elevado, o que define a vida humana propriamente dita. Nada é mais digno para um homem do que viver a política, identificar-se com a boa política, considerada como uma dimensão única. Parafraseando Walter Benjamin e Zygmund Baumann, podemos afirmar que a política, assim como a vida, é uma obra arte.

Num mundo aparentemente tão desencantado para com a política, ver o frenesi que toma conta da população as vésperas de mais uma eleição é um motivo de alegria. Você pode discordar deste ou daquele ator político,mas por um movimento misterioso, você é arrastado pela política. No dia de hoje a sociedade brasileira, através das eleições, tem a oportunidade de reinventar si própria. Pois ainda que exista a corrupção, os Tiriricas da vida e todos aqueles que fazem com que a política seja algo ruim, a possibilidade de reconstruir tudo isso está sempre em aberto. Os espaços de discussão sobre política que criamos na vida cotidiana mostram que ainda acreditamos que é possível construir coletivamente o nosso futuro.

Por esta razão, no dia de hoje, vote. E, como diriam os antigos, vote bem, cuidando para que seu voto não fuja ao seu destino.
Publicado em Zero Hora em 02/10/2010

Um comentário:

Luísa Alves disse...

Olá, Jorge!

Tenho material sobre o próximo Simpósio que será realizado na Unisinos/IHU e talvez possa interessar aos leitores do seu blog.

Estou à sua disposição caso tenha interesse, ok?

Abraço!

luisaalves83@gmail.com