Gosto
muito do José Clóvis. Sua história está inscrita na DS: como na
história de Asterix, que habita o último reduto não ocupado pelos
romanos na Gália, José Clovis habita o último reduto
petista não entregue ao jogo da política tradicional. Para resisitr aos
romanos, na estória de Goscinny e Uderzo, os aldeões contavam com uma
poção mágica preparada pelo druida Panoramix. Só Obelix não precisa da
poção, já que caiu no caldeirão dela quando
era criança. A poção mágica de José Clóvis se chama politecnia. A
proposta de Ensino Médio Politécnico é, na realidade, o sonho de todo
militante de esquerda: ela é o outro nome da educação
socialista, educação crítica do sistema capitalista inspirada
nos estudos de Marx, Engels e Lênin incorporados ao pensamento
educacional brasileiro de esquerda através do GT Trabalho e Educação da
ANPEd e o termo dominante do pensamento dos educadores de esquerda
durante a década de 90.
Precisamos
de uma educação de esquerda? É claro que sim, urgentemente. A proposta
de José Clóvis é boa, mas ainda tem a avançar neste sentido. Primeiro, a
SEC precisa mostrar capacidade
de organização dos debates; segundo, precisa manter a posição de
abertura porque é uma construção coletiva e terceiro, precisa enfrentar a
contradição de base do projeto: como efetivar uma proposta educacional
socialista no interior do capitalismo? Socialista,
a grosso modo, porque a proposta quer “desenvolver consciências
criticas capazes de compreender a nova realidade” ao mesmo tempo que
quer “atender as demandas do mundo do trabalho para a educação” e, e....
o que mais mesmo? E aí que mostra sua fragilidade.
Ela coloca a educação “no espaço de lutas sociais pela emancipação do
ser humano “(p.18), mas como fazer isso no interior do capitalismo,
justamente o regime onde a educação é vista como um “custo morto”
(Kurz) e onde quanto maior a oferta de mão de obra-qualificada,
maior a desvalorização da força de trabalho?
A
questão é fornecer ao aluno os instrumentos que o permitam construir
coletivamente um projeto de mudança social – e é isso, justamente, o que
não está em questão, já que a proposta prevê
no Anexo 3 que a implantação de novos cursos atenderá os critérios dos
Arranjos Produtivos Locais (APL), numa palavra, as empresas das regiões.
Quer dizer, a proposta de politecnia é um avanço frente ao taylorismo,
mas é um avanço relativo, já que subentende
que o monopólio do poder sobre as condições de trabalho permanece com o
Capital. Para ser uma proposta radical, desejo que bate oculto no
coração da DS, seu foco deve voltar-se não para o imediatismo do
mercado de trabalho, mas para o desenvolvimento das
potencialidades libertárias pelo trabalho contra a exploração do capital.
Isso
não significa negar a possibilidade da educação socialista ou da
proposta apresentada, ao contrário. Acontece com a proposta da SEC algo
semelhante à publicidade: uma parte da proposta
atinge o alvo, mas não se sabe qual é. A politecnia pode ser uma boa
poção mágica, mas ela só funcionará se for como a poção de Asterix,
radical na sua forma e capaz de transformar os alunos em seres
indestrutíveis frente às forças do Capital. Aliás, melhor
seria se os alunos caíssem de inteiro no caldeirão de suas idéias. Mas
isto é outra historia.
Publicado em Zero Hora em 30/11/2011.
Publicado em Zero Hora em 30/11/2011.
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