Conta-se que um operário alemão obteve um emprego na Sibéria num tempo em que toda a correspondência era lida por censores. Ele então combina um código com seus amigos: se uma carta estiver escrita em azul, o que diz é verdade; se for vermelha, é mentira. Tempos depois, eles recebem uma carta em tinta azul: "Tudo aqui é maravilhoso: as lojas vivem cheias, a comida é abundante, os apartamentos são grandes e bem aquecidos, os cinemas exibem filmes do Ocidente, há muitas garotas, sempre prontas para um programa - o único senão é que não se consegue encontrar tinta vermelha".
A estória é contada por Slavoj Žižek, em "Bem vindo ao deserto do real" (Boitempo, 2003) . Ela serve para o autor colocar o ponto de partida de sua obra: uma investigação rigorosa da ideologia, do totalitarismo e principalmente da língua que usamos para descrever nossos conflitos presentes. "Esta falta de tinta vermelha significa que atualmente todos os termos usados para descrever o presente conflito - "guerra contra o terrorismo", "democracia e liberdade", "direitos humanos", etc - são termos falsos, que mistificam nossa percepção da situação em vez de nos permitir pensa-la".
A estória é contada por Slavoj Žižek, em "Bem vindo ao deserto do real" (Boitempo, 2003) . Ela serve para o autor colocar o ponto de partida de sua obra: uma investigação rigorosa da ideologia, do totalitarismo e principalmente da língua que usamos para descrever nossos conflitos presentes. "Esta falta de tinta vermelha significa que atualmente todos os termos usados para descrever o presente conflito - "guerra contra o terrorismo", "democracia e liberdade", "direitos humanos", etc - são termos falsos, que mistificam nossa percepção da situação em vez de nos permitir pensa-la".
A obra é uma interpretação original sobre o que se sucedeu depois do 11 de setembro: a dissecação dos termos da "Nova Doutrina Bush" - crítica ao direito de atacar os países que não representam uma ameaça, "mas que poderiam sê-lo no futuro" - como alusão do filme Minority Report, de Steven Spielberg; a análise das consequências da perspectiva paranóica da ameaça permanente terrorista transformada em agente abstrato e irracional, criticada por ser lembrada de forma negativa e a-histórica; a discussão da categoria Felicidade como do Ser e ao mesmo tempo confusa, indeterminada, inconsistente e hipócrita no mundo atual através da análise de ações de políticos e de personagens de desenho animado; a indicação do beco sem saída em que se meteram os críticos pseudo-revolucionários da religião, que a denunciam em nome da liberdade, para logo em seguida, abrir mão desta para sobreviver; a análise do significado da aceitação de pequenas humilhações diárias que cerca os povos palestinos, árabes e israelenses como parte da estratégia de tratamento das grandes potências para com estes povos.
Em suma, a denuncia da nova divisão entre "bons" e "maus" no mundo em que vivemos "Por que se deveria privilegiar a catástrofe do WTC em relação, digamos, ao genocídio dos hutus pelos tutsis em Ruanda, em 1994? Ou ao bombardeio em massa e envenenamento por gás dos curdos no norte do Iraque no inicio da década de 1990? Ou a matança generaliza perpetrada pelas forças indonésias contra a população do Timor Leste? Ou...é longa a lista de países onde o sofrimento era, e é, incomparavelmente maior que o sofrimento em Nova Iorque, mas a população não teve a sorte de ser elevada pela mídia à categoria de vítimas sublimes do Mal Absoluto."
Nascido em 21 de março de 1949 na Eslovênia, Žižek, formou-se em Sociologia e Filosofia em 1971. Entre 1975 e 1981 completou estudos de Mestrado e Doutorado em Filosofia, e em 1985, pós-doutorado em Psicanálise. Influenciado pelo pensamento de Derrida, Althusser, Foucault e Lacan, traduz seus textos, o que o leva a enfrentar a ira de lacanianos "ortodoxos" de seu país. Colabora na construção da "Escola Lacaniana da Eslovênia" que inclui, além de Žižek, Miram Božovič, ždravko Kobe, Mladen Dolar, Renata Salecl e Alenda Zupančič, cuja característica central é o distanciamento da clínica psicanalítica em direção à filosofia e o pensamento alemão. Daí as preocupações, presentes na obra de Žižek, com o poder, a cultura, a arte, especialmente o cinema.
Professor do Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana, Eslovênia, seu temperamento mais revolucionário do que teórico produz seu deslizamento em direção à política. Ativo militante político, candidatou-se à presidente nas eleições de 1990 em seu pais. Esta é a razão do fato de sua obra ser muito mais política e moral do que teórica, como a influência do lacanismo faria supor. A medida que sua obra foi traduzida para o mundo, Žižek ganhou fama e notoriedade, passando a ser convidado para ser professor de diversas universidades como Paris VIII, Minnesota, Nova York, Princenton, Michigan, Georgetown, desenvolvendo atividades nos Estados Unidos, Europa, Australia, e Japão.
Salvo círculos restritos, sua obra é pouco conhecida no Brasil. Autor de cerca de 50 livros traduzidos em 12 idiomas, somente 3 de suas obras foram publicadas no Brasil: "Eles não Sabem o que Fazem: O sublime objeto da ideologia"(Jorge Zahar, 1992, esgotado), "O Mais Sublime dos Histéricos: Hegel com Lacan"(Jorge Zahar, 1991, esgotado) e "O Mapa da Ideologia"(Contraponto, 1996). Neles, Žižek analisa a noção de "dessublimação repressiva" - cara aos frankfurtianos - através da teoria lacaniana e redefine o objeto totalitário e o cinismo como sua ideologia; realiza a arqueologia da consciência e do saber dos pré-socráticos à Hegel e Marx e demonstra como o Real, Sintoma e Fantasia - noções também caras ao lacanismo - são instrumentos conceituais de grande utilidade para a compreensão dos fenômenos político-sociais contemporâneos.
"Bem-vindo ao deserto do real" tem como característica principal a de ser um convite a introdução ao pensamento do autor. Com uma escrita peculiar e um estilo repleto de jogos de linguagem, parábolas intelectuais e o uso abusivo de elementos do cinema, da arte, da filosofia para analisar o campo político e social, sua escrita é marcado por diversos cortes conceituais e nos leva de conceitos da dialética hegeliana e do kantismo ao cinema de David Lynch, Steven Spielberg e outros para provar sua teoria do sujeito inspirada na leitura dialética de Lacan. É como se, na falta de recurso melhor, cenas da cultura de massa tomassem o lugar dos conceitos essenciais à compreensão do mundo moderno. No centro desta aventura teórica encontra-se a idéia da irredutibilidade do inconsciente à simbolização e que pode ser entendido como "aquilo que, no sujeito, se define por resistir continuamente aos processos de auto reflexão". Essa "ontologia negativa" o distancia dos pós-modernos porque para Žižek se justifica as aspirações de emancipação e defesa do projeto moderno "a verdadeira escolha livre é aquela na qual eu não escolho apenas entre duas ou mais opções no interior de um conjunto prévio de coordenadas, mas escolho mudar o próprio conjunto de coordenadas".
Este argumento é exposto logo no primeiro capítulo, intitulado "Paixões do Real, paixões do Semblante". A "paixão pelo real" é um definido como paixão estético-politica pela ruptura e transgressão que toma conta do sujeito, mas que ao mesmo tempo torna-se útil ao capital que se demonstra suficientemente astuto para reduzir as aspirações do desejo no campo social à lógica do mercado. Identificada originalmente por Alain Badiou, diz Žižek: "Ao contrário do século XIX dos projetos e ideais utópicos ou científicos, dos planos para o futuro, o século XX buscou a coisa em si - a realização direta da esperada Nova Ordem. O momento último e definidor do século XX foi a experiência direta do Real como oposição à realidade social diária - o Real em sua violência extrema como o preço a ser pago pela retirada das camadas enganadoras da realidade" .
Os exemplos são inúmeros. Eles vão desde a relação amorosa do casal que radicaliza em mútua tortura até a morte, presente em O império dos Sentidos, de Nagisa Oshima, à Cuba de hoje, onde os produtos usados não passam da sucata americana, desafiado a lógica capitalista; desde as pessoas que sentem necessidade de se ferir com lâminas até a enormidade de produtos desprovidos de suas propriedades malignas - sem caféina, açúcar ou álcool, contraponto do sexo sem sexo (internet) ou da guerra sem mortos - para os americanos, é claro. Essa busca pela chamada "Coisa Real" é na realidade algo vazio e destrutivo. Ele é o campo simbólico no qual se movem os reality shows da tv e a pornografia e que pode ser definida nos seguintes termos "exatamente por ser real, ou seja, em razão de seu caráter traumático e excessivo, não somos capazes de integra-lon à nossa realidade (no que sentimos como tal) e portanto, somos forçados a senti-lo como um pesadelo fantástico".
Na busca pelo real, pelo seu desvelamento, terminamos por gerar um novo problema: anulamos o potencial corrosivo desta busca, que pode ser vista na expansão do efeito especular de destruição" o problema com a "paixão pelo Real" do século XX não é o fato de ela ser uma paixão pelo Real, mas sim o fato de ser uma paixão falsa em que a implacável busca pelo Real que há por trás das aparências é o estratagema definitivo para evitar o confronto com ele". Isto somente pode ser compreendido quando lembramos que no pensamento de Žižek a fantasia é central do ponto de vista político - o que lembra em parte a obra de Dieter Prokop e seus estudos sobre o imaginário nos meios de comunicação. Assim como o sujeito usa da fantasia como forma de estruturar o seu desejo e reduzir a angústia, a fantasia se torna social e estrutura a determinação do valor e significado da realidade. "Fantasia social capaz de produzir uma "objetividade fantasmática" que tem um nome próprio: ideologia "(Safatle).
Žižek, construiu seu pensamento no campo dos "Cultural Studies", valendo-se da cultura de massa para demonstrar seu conceito de Real, que utiliza frequentemente para demolir a hegemonia liberal em seus excessos e aberrações. É a denuncia da sedução em escala planetária realizada pelo capitalismo para nos distanciar da verdade. O real é o fragmento e a fantasia (fantasmas?) tornam-se nossa realidade. Seu texto produz uma articulação da psicanálise com a dialética superior a Reich ou aos frankfurtianos, saborosa descoberta da "análise do vínculo social a partir da teoria das pulsões" ou, pura e simplesmente, a abordagem política do desejo no centro de qualquer ideologia.
Se você ainda não notou, o título da obra provém de uma fala de Morpheus à Neo em Matrix, dita no exato estante em que aquele lhe mostra o mundo "O líder da resistência Morpheus pronuncia a saudação irônica: 'Bem-vindo ao deserto do real'. Não foi algo da mesma ordem que ocorreu em Nova York no dia 11 de setembro? Seus cidadãos foram apresentados ao "deserto do real" - para nós, corrompidos por Hollywood, a paisagem e as cenas que vimos das torres arruinadas não puderam deixar de nos lembrar das sequências mais impressionantes dos grandes filmes de catástrofe". A belissima capa de Andrei Polessi diz tudo.
O texto possui ainda um posfácio de Vladimir Safatle, professor de Filosofia da USP que apresenta de forma instigante o autor. Ao final da obra encontramos uma instigante mensagem "Não se deve tomar a realidade por ficção - é preciso ter a capacidade de discernir, naquilo que percebemos como ficção, o núcleo duro do real que só temos condições de suportar se o transformarmos em ficção. Resumindo, é necessário ter a capacidade de distinguir qual parte da realidade é "transfuncionalizada" pela fantasia, de forma que, apesar de ser parte da realidade, seja percebida num modo ficcional. Muito mais difícil do que denunciar ou desmascarar como ficção (o que parece ser) a realidade é reconhecer a parte da ficção na realidade "real". Os participantes do BBB que o digam.
Nascido em 21 de março de 1949 na Eslovênia, Žižek, formou-se em Sociologia e Filosofia em 1971. Entre 1975 e 1981 completou estudos de Mestrado e Doutorado em Filosofia, e em 1985, pós-doutorado em Psicanálise. Influenciado pelo pensamento de Derrida, Althusser, Foucault e Lacan, traduz seus textos, o que o leva a enfrentar a ira de lacanianos "ortodoxos" de seu país. Colabora na construção da "Escola Lacaniana da Eslovênia" que inclui, além de Žižek, Miram Božovič, ždravko Kobe, Mladen Dolar, Renata Salecl e Alenda Zupančič, cuja característica central é o distanciamento da clínica psicanalítica em direção à filosofia e o pensamento alemão. Daí as preocupações, presentes na obra de Žižek, com o poder, a cultura, a arte, especialmente o cinema.
Professor do Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana, Eslovênia, seu temperamento mais revolucionário do que teórico produz seu deslizamento em direção à política. Ativo militante político, candidatou-se à presidente nas eleições de 1990 em seu pais. Esta é a razão do fato de sua obra ser muito mais política e moral do que teórica, como a influência do lacanismo faria supor. A medida que sua obra foi traduzida para o mundo, Žižek ganhou fama e notoriedade, passando a ser convidado para ser professor de diversas universidades como Paris VIII, Minnesota, Nova York, Princenton, Michigan, Georgetown, desenvolvendo atividades nos Estados Unidos, Europa, Australia, e Japão.
Salvo círculos restritos, sua obra é pouco conhecida no Brasil. Autor de cerca de 50 livros traduzidos em 12 idiomas, somente 3 de suas obras foram publicadas no Brasil: "Eles não Sabem o que Fazem: O sublime objeto da ideologia"(Jorge Zahar, 1992, esgotado), "O Mais Sublime dos Histéricos: Hegel com Lacan"(Jorge Zahar, 1991, esgotado) e "O Mapa da Ideologia"(Contraponto, 1996). Neles, Žižek analisa a noção de "dessublimação repressiva" - cara aos frankfurtianos - através da teoria lacaniana e redefine o objeto totalitário e o cinismo como sua ideologia; realiza a arqueologia da consciência e do saber dos pré-socráticos à Hegel e Marx e demonstra como o Real, Sintoma e Fantasia - noções também caras ao lacanismo - são instrumentos conceituais de grande utilidade para a compreensão dos fenômenos político-sociais contemporâneos.
"Bem-vindo ao deserto do real" tem como característica principal a de ser um convite a introdução ao pensamento do autor. Com uma escrita peculiar e um estilo repleto de jogos de linguagem, parábolas intelectuais e o uso abusivo de elementos do cinema, da arte, da filosofia para analisar o campo político e social, sua escrita é marcado por diversos cortes conceituais e nos leva de conceitos da dialética hegeliana e do kantismo ao cinema de David Lynch, Steven Spielberg e outros para provar sua teoria do sujeito inspirada na leitura dialética de Lacan. É como se, na falta de recurso melhor, cenas da cultura de massa tomassem o lugar dos conceitos essenciais à compreensão do mundo moderno. No centro desta aventura teórica encontra-se a idéia da irredutibilidade do inconsciente à simbolização e que pode ser entendido como "aquilo que, no sujeito, se define por resistir continuamente aos processos de auto reflexão". Essa "ontologia negativa" o distancia dos pós-modernos porque para Žižek se justifica as aspirações de emancipação e defesa do projeto moderno "a verdadeira escolha livre é aquela na qual eu não escolho apenas entre duas ou mais opções no interior de um conjunto prévio de coordenadas, mas escolho mudar o próprio conjunto de coordenadas".
Este argumento é exposto logo no primeiro capítulo, intitulado "Paixões do Real, paixões do Semblante". A "paixão pelo real" é um definido como paixão estético-politica pela ruptura e transgressão que toma conta do sujeito, mas que ao mesmo tempo torna-se útil ao capital que se demonstra suficientemente astuto para reduzir as aspirações do desejo no campo social à lógica do mercado. Identificada originalmente por Alain Badiou, diz Žižek: "Ao contrário do século XIX dos projetos e ideais utópicos ou científicos, dos planos para o futuro, o século XX buscou a coisa em si - a realização direta da esperada Nova Ordem. O momento último e definidor do século XX foi a experiência direta do Real como oposição à realidade social diária - o Real em sua violência extrema como o preço a ser pago pela retirada das camadas enganadoras da realidade" .
Os exemplos são inúmeros. Eles vão desde a relação amorosa do casal que radicaliza em mútua tortura até a morte, presente em O império dos Sentidos, de Nagisa Oshima, à Cuba de hoje, onde os produtos usados não passam da sucata americana, desafiado a lógica capitalista; desde as pessoas que sentem necessidade de se ferir com lâminas até a enormidade de produtos desprovidos de suas propriedades malignas - sem caféina, açúcar ou álcool, contraponto do sexo sem sexo (internet) ou da guerra sem mortos - para os americanos, é claro. Essa busca pela chamada "Coisa Real" é na realidade algo vazio e destrutivo. Ele é o campo simbólico no qual se movem os reality shows da tv e a pornografia e que pode ser definida nos seguintes termos "exatamente por ser real, ou seja, em razão de seu caráter traumático e excessivo, não somos capazes de integra-lon à nossa realidade (no que sentimos como tal) e portanto, somos forçados a senti-lo como um pesadelo fantástico".
Na busca pelo real, pelo seu desvelamento, terminamos por gerar um novo problema: anulamos o potencial corrosivo desta busca, que pode ser vista na expansão do efeito especular de destruição" o problema com a "paixão pelo Real" do século XX não é o fato de ela ser uma paixão pelo Real, mas sim o fato de ser uma paixão falsa em que a implacável busca pelo Real que há por trás das aparências é o estratagema definitivo para evitar o confronto com ele". Isto somente pode ser compreendido quando lembramos que no pensamento de Žižek a fantasia é central do ponto de vista político - o que lembra em parte a obra de Dieter Prokop e seus estudos sobre o imaginário nos meios de comunicação. Assim como o sujeito usa da fantasia como forma de estruturar o seu desejo e reduzir a angústia, a fantasia se torna social e estrutura a determinação do valor e significado da realidade. "Fantasia social capaz de produzir uma "objetividade fantasmática" que tem um nome próprio: ideologia "(Safatle).
Žižek, construiu seu pensamento no campo dos "Cultural Studies", valendo-se da cultura de massa para demonstrar seu conceito de Real, que utiliza frequentemente para demolir a hegemonia liberal em seus excessos e aberrações. É a denuncia da sedução em escala planetária realizada pelo capitalismo para nos distanciar da verdade. O real é o fragmento e a fantasia (fantasmas?) tornam-se nossa realidade. Seu texto produz uma articulação da psicanálise com a dialética superior a Reich ou aos frankfurtianos, saborosa descoberta da "análise do vínculo social a partir da teoria das pulsões" ou, pura e simplesmente, a abordagem política do desejo no centro de qualquer ideologia.
Se você ainda não notou, o título da obra provém de uma fala de Morpheus à Neo em Matrix, dita no exato estante em que aquele lhe mostra o mundo "O líder da resistência Morpheus pronuncia a saudação irônica: 'Bem-vindo ao deserto do real'. Não foi algo da mesma ordem que ocorreu em Nova York no dia 11 de setembro? Seus cidadãos foram apresentados ao "deserto do real" - para nós, corrompidos por Hollywood, a paisagem e as cenas que vimos das torres arruinadas não puderam deixar de nos lembrar das sequências mais impressionantes dos grandes filmes de catástrofe". A belissima capa de Andrei Polessi diz tudo.
O texto possui ainda um posfácio de Vladimir Safatle, professor de Filosofia da USP que apresenta de forma instigante o autor. Ao final da obra encontramos uma instigante mensagem "Não se deve tomar a realidade por ficção - é preciso ter a capacidade de discernir, naquilo que percebemos como ficção, o núcleo duro do real que só temos condições de suportar se o transformarmos em ficção. Resumindo, é necessário ter a capacidade de distinguir qual parte da realidade é "transfuncionalizada" pela fantasia, de forma que, apesar de ser parte da realidade, seja percebida num modo ficcional. Muito mais difícil do que denunciar ou desmascarar como ficção (o que parece ser) a realidade é reconhecer a parte da ficção na realidade "real". Os participantes do BBB que o digam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário