quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Jardins da Política



Foi Ruben Alves que chamou a atenção para a relação da política com a jardinagem. Ele não queria ofender os políticos ou a politica, ao contrário, queria mostrar uma relação inequivoca entre os termos. Aliás, para Rubem Alves, a política é a vocação mais nobre porque vocação vem do latim "vocare", que quer dizer "chamado". Por isso vocação por definição é um chamado interior repleto de amor, amor por um fazer. Se você tem uma vocação você a faz por amor. Psicologia autruista quase impossivel nos dias de hoje: fariamos o mesmo mesmo se não ganhassemos nada.Vocação. E se você é um político por vocação, você é o melhor ator social que uma comunidade pode almejar a ter.


A origem de política, todos sabem é grega, das cidades ou polis, então espaços seguros, ordenados e mansos, bem diferentes de nossas cidades inseguras, desordenadas e violentas. A mudança não significa que mudamos o objetivo de viver nas cidades, qual seja, a de que é um lugar onde os homems podem buscar a felicidade. Diz Alves, com sabedoria "O político seria aquele que cuidaria desse espaço. A vocação política, assim, estaria a serviço da felicidade dos os moradores da cidade."


A jardinagem entra para Alves como uma metáfora, um espelho que serve para ver que política alcançamos. É que além dos gregos, ele lembra a importância de se pensar nos hebreus, nômades no deserto e que na mesma época não sonhavam com cidades, mas sonhavam com jardins. "Quem mora no deserto sonha com oases. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se perguntássemos a um profeta hebreu "o que é política?", ele nos responderia, " a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas".




Queremos cidades ou queremos jardins? A metáfora é bonita porque serve para imaginar que o bom politico é o apaixonado por jardins para todos, é capaz de abrir mão de seu pequeno jardim - seus cargos, seus benefícios, seus lucros - que de nada valem se ao seu redor está um deserto - a saúde, a educaçao, a violência.




Alves tira disso uma lição para os políticos: é preciso transformar desertos em jardins. A importância da politica está no fato de que os políticos tem poder. Obvio, não? Mas o que isto significa? Significa a capacidade de fazer algo duradouro, ou como todos gostariamos, de "transformar sonhos em realidade". Há ainda muitos políticos por vocação, lembra Alves, e sua existencia é o único motivo real de que devemos ainda, por mais um tempo, ter esperança na politica e na sua função possível de transformar os desertos da realidade em jardins para se viver.




Daí a importãncia do parlamento em dar seu exemplo. Os políticos, os vereadores, darem mostras do que fazem pela população. Recuperar o aspecto de vocação da politica significa recuperar o sentido da felicidade no fazer político e não no lucro que deriva dela. Construir jardins, diria Alves. Além disso, daí a importância de uma educação política para que as novas gerações se aproximem da política mais por seus ideais do que por seus benefícios - formar novos construtores de jardins.




Mas a metáfora dos jardins ensina mais uma coisa a política e a sociedade: não podemos viver a política como quem vive o imediato. A sensação de que o mundo é vivido no presente e que cada vez mais uma cultura da urgência se estabelece - é para agora!, faça agora!corra agora!, - tão criticada por Paul Virilio em seu "Guerra Pura - a militarizaçaõ do cotidiano" serve para nos alertar que os verdadeiros jardins - as verdadeiras obras - não são feitas em minutos: é preciso ter paciência para plantar árvores. Nada é na hora, muito menos na política. Arvores levam anos para crescer, diz Alves e essa paciência deveria ser uma caracteristica do cidadão, e não o é! É preciso esclarece-lo. O mesmo serve para os políticos que vivem do imediatismo de seu mandato - eventos por eventos - é preciso construir uma trajetória. Aì está a diferença.




A política é um campo importante para a sociedade, o problema é que a estamos destruindo. É possivel que em muitas escolas, crianças que sintam o chamado da política e não tenham coragem de atende-lo, por vergonha de serem confundidos com os maus políticos. Se a politica não se reproduzir, quem governará o futuro?




Daí a importância da boa sedução. "Seduccere" significa desvio. Escutar a vocação é dificil, ainda mais para adolescentes e no contexto de esvaziamento da politica difundido pela mídia. Mas se a política, como diz Alves, é um dos melhores destinos, pois é onde os "destinos do jardim" são decididos, seria muito mais fascinante participar dos destinos do jardim. È a instituição politica que deve fazer este trabalho de "sedução", deviar o olhar do cidadão da má política para mostrar que a boa política é possivel - ou nos termos de Kant, da Crítica da Razão Pura, devemos agir como se tal fosse possivel.

A verdade é que estamos substituindo a possibilidade dos jardins da politica pela reconstrução da selva. Selva das cidades, é onde estamos começando a viver. Lugar de indiferença, insensibilidade, sofrimento e morte, e nisto que vem se transformando nossas cidades e nova vida pública. Violência. Veja o Rio. Mas nossa selva ainda pode ser transformada num jardim, se pensarmos como podemos ter novos bons jardineiros e tivermos paciência para plantar arvores. E, claro, como sempre defendo, não esquecermos do cuidado com as crianças.

Um comentário:

  1. Concordo plenamente. Tem tudo a ver a política com a arte da jardinagem.
    Cuidar de jardins, cuidar da pólis.
    Isto aí Jorge.
    E como despertar vocações para a política.
    Com alguns políticos agindo do jeito que agem?
    Com esta mídia medíocre.
    Que o teu blog acenda algumas faíscas para incendiar as mentes
    Adeli Sell
    Vereador do PT, POA, rs

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