A imagem do motorista bem arrumado e de seu carro amassado por atropelar ciclistas na sexta-feira, dia 25/02, correu o mundo e provocou uma série de reflexões e novas ações. No ultimo dia 3, foi a vez da organização não governamental Rodas da Paz protestar no Congresso Nacional contra a atitude de Ricardo José Reis, com um ato onde foi feito o enterro simbólico dos códigos de trânsito e penal brasileiro enquanto que, na internet, ciclistas gaúchos recebem ameaças anônimas de motoristas simpatizantes do funcionário público. Roberto DaMatta resumiu recentemente a questão: “o trânsito é uma multidão de surtados”.
Para o autor de “Fé em Deus e Pé na Tábua ou como e porquê o transito enlouquece o Brasil”, o problema é que o brasileiro não aceita a igualdade. O trânsito obriga você a esperar sua vez. Para DaMatta, ao contrário, no trânsito o motorista se sente um aristocrata e o antrópologo enumera uma série de caracteristicas que fazem com que afirme que o problema está nas pessoas: nossa formação, individualismo, cultura, etc. Uma outra interpretação, contudo, aponta para seguinte direção e diz: o problema está na coisa. Para André Gorz,em "Ecológica" os carros são como os castelos,bens de luxo inventados para o prazer de uma minoria. Se todos tem, todos se frustram com eles, ao contrário das bicicletas, feitas para todos. Por esta razão o carro é um bem anti-social, porque rouba o espaço dos pedestres e ciclistas, e desumanizante, pois a posse da velocidade reforça o nosso egoísmo e induz a violência.
Para Paul Virilio, a velocidade é o centro da dromologia, a ciência da velocidade (dromos= corrida). Quando foi inventado, o carro proporcionou a experiência inédita de andar mais rápido que diligências, carruagens, trens e bicicletas. Antes dele, a velocidade era democrática: todos andavam na mesma velocidade. Depois do carro, havia uma velocidade de deslocamento para a elite e outra para o povo. Aparentemente, o carro dá poderes ilimitados ao seu dono, mas o que faz de fato é torná-lo dependente de mecanismos de manutenção dos especialistas, que cobram caro por seus serviços. Enquanto que o ciclista tem relação de possuidor de sua bicicleta, o motorista é consumidor. Vitória do Capital, que cria dependência sob o véu de autonomia.
Ao democratizar-se o privilégio, caímos numa armadilha. Queríamos velocidade privilegiada e voltamos a andar na velocidade média das carruagens e dos ciclistas. Diz Gorz: “enquanto houver cidades, o problema não terá solução”, referindo-se ao fato de que não adianta quantas estradas sejam construídas que sempre haverá mais e mais carros para nelas trafegar. Estudiosos dizem que gastamos uma hora de trabalho para andar seis quilômetros, o mesmo que faríamos a pé. E quanto mais carros rápidos fazemos, mais tempo perdemos para nos deslocar.
Para Gorz, o carro mata duas vezes. Mata primeiro a cidade, tornando-a insuportável. Mata depois a si mesmo, negando sua essência, a velocidade. Mas o que Gorz não imaginou, é que mata também um pouco de nós mesmos, basta ver as cenas diárias de violência banal no trânsito. “O carro tornou a cidade inabitável” diz Gorz, e por isso sentimos a cidade como um inferno. O que resta da finalidade original do carro quando, em termos de velocidade, uma bicicleta pode fazer igual?
DaMatta e Gorz estão certos: o problema não é o transporte, mas o tipo de cidade e vida que desejamos ter. Precisamos renunciar ao carro, transformar a paisagem urbana, fazer com que as pessoas não precisem mais de transporte e que tenham prazer em ir de bicicleta ou a pé para o trabalho. Deve ser agenda dos políticos e urbanistas o problema de como fazer com que bairros possam se transformar no microcosmo de nossa vida. Se o problema do transporte está ligado ao problema da cidade, da divisão do trabalho e da compartimentalização da vida, faz sentido a resposta de Marcuse sobre o que fazer depois da Revolução. Ele disse: “nos iremos destruir as cidades e reconstruir novas. Isso nos ocupará por um tempo”.
Para o autor de “Fé em Deus e Pé na Tábua ou como e porquê o transito enlouquece o Brasil”, o problema é que o brasileiro não aceita a igualdade. O trânsito obriga você a esperar sua vez. Para DaMatta, ao contrário, no trânsito o motorista se sente um aristocrata e o antrópologo enumera uma série de caracteristicas que fazem com que afirme que o problema está nas pessoas: nossa formação, individualismo, cultura, etc. Uma outra interpretação, contudo, aponta para seguinte direção e diz: o problema está na coisa. Para André Gorz,em "Ecológica" os carros são como os castelos,bens de luxo inventados para o prazer de uma minoria. Se todos tem, todos se frustram com eles, ao contrário das bicicletas, feitas para todos. Por esta razão o carro é um bem anti-social, porque rouba o espaço dos pedestres e ciclistas, e desumanizante, pois a posse da velocidade reforça o nosso egoísmo e induz a violência.
Para Paul Virilio, a velocidade é o centro da dromologia, a ciência da velocidade (dromos= corrida). Quando foi inventado, o carro proporcionou a experiência inédita de andar mais rápido que diligências, carruagens, trens e bicicletas. Antes dele, a velocidade era democrática: todos andavam na mesma velocidade. Depois do carro, havia uma velocidade de deslocamento para a elite e outra para o povo. Aparentemente, o carro dá poderes ilimitados ao seu dono, mas o que faz de fato é torná-lo dependente de mecanismos de manutenção dos especialistas, que cobram caro por seus serviços. Enquanto que o ciclista tem relação de possuidor de sua bicicleta, o motorista é consumidor. Vitória do Capital, que cria dependência sob o véu de autonomia.
Ao democratizar-se o privilégio, caímos numa armadilha. Queríamos velocidade privilegiada e voltamos a andar na velocidade média das carruagens e dos ciclistas. Diz Gorz: “enquanto houver cidades, o problema não terá solução”, referindo-se ao fato de que não adianta quantas estradas sejam construídas que sempre haverá mais e mais carros para nelas trafegar. Estudiosos dizem que gastamos uma hora de trabalho para andar seis quilômetros, o mesmo que faríamos a pé. E quanto mais carros rápidos fazemos, mais tempo perdemos para nos deslocar.
Para Gorz, o carro mata duas vezes. Mata primeiro a cidade, tornando-a insuportável. Mata depois a si mesmo, negando sua essência, a velocidade. Mas o que Gorz não imaginou, é que mata também um pouco de nós mesmos, basta ver as cenas diárias de violência banal no trânsito. “O carro tornou a cidade inabitável” diz Gorz, e por isso sentimos a cidade como um inferno. O que resta da finalidade original do carro quando, em termos de velocidade, uma bicicleta pode fazer igual?
DaMatta e Gorz estão certos: o problema não é o transporte, mas o tipo de cidade e vida que desejamos ter. Precisamos renunciar ao carro, transformar a paisagem urbana, fazer com que as pessoas não precisem mais de transporte e que tenham prazer em ir de bicicleta ou a pé para o trabalho. Deve ser agenda dos políticos e urbanistas o problema de como fazer com que bairros possam se transformar no microcosmo de nossa vida. Se o problema do transporte está ligado ao problema da cidade, da divisão do trabalho e da compartimentalização da vida, faz sentido a resposta de Marcuse sobre o que fazer depois da Revolução. Ele disse: “nos iremos destruir as cidades e reconstruir novas. Isso nos ocupará por um tempo”.
Publicado no Portal Pé na Porta.
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