Reuni-me nesta quarta-feira com Caco Coelho, Diretor da Usina do Gasômetro. Ele foi o responsável pela implantação da cobrança de ingressos no Teatro Dante Barone da Assembléia Legislativa. Eu já havia falado (foto ao lado) com o Diretor do Departamento de Artes Dramáticas da UFRGS sobre o mesmo tema, a possibilidade ou não de cobrança de ingresso no Teatro Glenio Peres.
Porque cobrar ingresso num teatro público?. A razão é simples: a necessidade de profissionalizar o teatro. Sem fonte de receitas, o Teatro da Câmara perde os melhores grupos teatrais. Por esta razão, há muito tempo debate-se a possibilidade de cobrança de ingresso no Teatro Glênio Peres. Para uns, a cobrança é impossível tendo em vista a finalidade do legislativo, a impossibilidade de recolher receitas, a natureza do espaço público. O fundamento contábil é que todo o recurso é do Executivo e não cabe ao Legislativo auferir receitas. Para outros, a cobrança de ingresso é uma necessidade, sem a qual não se consegue profissionalizar o teatro e valorizar a classe teatral. O Legislativo criou um teatro, deve regra-lo.
Visitei a Assembléia Legislativa para conhecer o modelo implantado. Basicamente eles tem lá um Fundo de Manutenção do Teatro Dante Barone que autoriza, pelo pagamento de uma taxa de uso aos grupos a cobrança de ingresso. Nada mais simples. Autorizado pela Mesa Diretora, os recursos são recebidos em uma conta Recursos da Assembléia Legislativa, do Orçamento do Estado, na conta Assembléia. A Assembléia recolhe, repassa os recursos para o Executivo e volta a ve-los no ano seguinte. Nada mais transparente.
Perguntei ao Caco se o Teatro Glênio poderia cobrar ingresso. "Como não?", ele respondeu, com a experiência de quem implantou a mesma sistemática no Teatro Dante Barone. "Onde fica o direito universal de remuneração pelo trabalho executado?". Não havia pensado nisso. É um direito universal ao qual nem o Legislativo, que é um poder, pode se insurgir. Caco vai além. Propõe que retomemos o espírito das Companhias de Teatro: o Teatro Glênio Peres deveria ter uma equipe de teatro própria, que usaria suas instalações, pesquisaria textos, inovaria na linguagem e faria programação própria. Mas isto não vai contra a política de Edital, pública, de ocupação para todos, defendida pela atual adminsitração? Como fazer?
Caco disse mais: "vivemos a tirania do evento". É verdade. Por todo o lado vemos o evento substituir a experiência da troca. O que isto significa? Em termos do Teatro, fazemos espetáculos um atrás do outro mas não cuidamos da formação do público teatral e nem possibilitamos experiências de troca e invenção naquele espaço. Criação. Inovação. Performance. Ousadia. Em termos de produção cultural em geral, fazemos atividades diversificadas sem obedecer a um plano diretor de cultura no legislativo. Estamos com um projeto em tramitação tratando justamente deste tema.
A conversa com o Caco me ensinou que é preciso amadurecer a identidade cultural do legislativo. Isto significa buscar esclarecer os objetivos de nossa ação cultural, seu fundamento, seu planejamento e sua decisão. A tirania dos eventos coloca o Legislativo no campo cultural da cidade, o que é positivo, mas transformar o parlamento em ator significa mais, significa ter clareza no sentido da produção que fazermos e que oferecemos a população. Ele só pode ser o da construção da cidadania e da educação política.
Entendo que é possível a cobrança de ingressos na forma comentada.
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