Gilles Lipovetsky, na obra Tela Total (Editora Sulina), diz que o espetáculo de nossa época é ver telas do cinema espalhadas pelo mundo. Da televisão ao telefone celular, do computador ao telefone e de restaurantes à aeroportos “mesmo confrontado com desafios de produção, o cinema continua sendo uma arte de um poderoso dinamismo, cuja criatividade não está de modo algum em declínio. O tudo-tela não é o túmulo do cinema: mais do que nunca este demonstra inventividade, diversidade, vitalidade”.
Menos em Porto Alegre, desde que uma decisão oficial da Infraero determinou o fechamento do Aeroguion. É mais um cinema que morre na capital. Localizado no Aeroporto Salgado Filho, foi o primeiro complexo de cinema a se localizar no interior de um aeroporto na América Latina, numa época em que o cinema já se tornou parte da paisagem dos grandes aeroportos internacionais. Possuía uma programação de qualidade e público cativo mantido pelos “atrasos” constantes de nossas companhias aéreas e pelo inúmeros fechamentos do aeroporto por mal tempo. O cinema no aeroporto significou, além de cultura, diminuição de sofrimento de centenas de passageiros.
Disponibilizar a área de um cinema para caixas bancários e órgãos que poderiam ficar no aeroporto velho é o típico exemplo de como é tratada a cultura em nosso país. Michel Foucault, numa conferência de 1979 nos Estados Unidos, explicava que a função da critica é vigiar os abusos de poder da racionalidade política. Vendo a atitude da Infraero, o que se observa é que na base do argumento está a idéia da sua desresponsabilização com a cultura cuja causa é o pouco conhecimento de seus gestores do alcance real de um governo. Numa palavra, o que falta a Infraero é visão sistêmica de sua função.
O fato é que o cinema cult é o único que dispomos para enfrentar o cinemão americano. Sem sua contribuição, obras do cinema independente jamais chegarão ao público. Com o fechamento do Aeroguion, perdem todos. Sempre coube a área governamental proteger os gêneros que compõem a cultura erudita, como o cinema e a Infraero tem sim uma responsabilidade: colaborar, na sua esfera de influência, para a consolidação da cultura, no caso, cinematográfica. Cabem aos gestores públicos pensar orgânica e integradamente a área cultural e entender a contribuição que podem e devem dar as necessidades mais agudas da área cultural com as políticas públicas, em que, até prova em contrário, a Infraero foi incapaz de fazer
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