Está circulando na Internet (http://primeirainfancia. org.br/2010/05/ carta-da-rnpi-para-os-parlamentares/) a carta elaborada pela Rede Nacional Primeira Infância, formada por 74 organizações da sociedade civil, do governo, do setor privado, de organizações multilaterais e outras redes de organizações, dirigida aos deputados e senadores da República solicitando o reexame do dispositivo constante do PL 6755/2010 (original PLS 414/2008) que estabelece em seu artigo 6º o dever dos pais ou responsáveis de efetuar a matrícula dos menores a partir dos cinco anos no ensino fundamental. A idade é reiterada no artigo 32 do mesmo projeto, que diz que o ensino fundamental, com duração de nove anos anos, inicia-se aos 5 (cinco) anos de idade.
Tais entidades questionam o projeto de lei porque entendem que ele implica no fim do direito de ser criança. Para tais entidades, trata-se de um verdadeiro roubo da infância, na medida em que a criança tem o direito de viver segundo suas características físicas, biológicas e psicológicas de. Este direito é roubado porque “começar a primeira série do ensino fundamental aos cinco anos e um dia equivale a perder a infância, estar a criança impedida de ser criança, ser proibida de brincar”.
A Rede Nacional da Primeira Infância tem razão em sua luta. Os educadores há muito tempo defendem a expansão da educação pré-escolar e não a inclusão das crianças de cinco anos na educação fundamental. É consenso dos educadore que a educação pré-escolar é a que atende de forma mais adequada a uma pedagogia da primeira infância, pois é a que mais consegue preservar "o direito de brincar" da criança. Para eles, a inclusão da crianças de cinco anos na primeira série só fará mal a elas, pois, do jeito que está o sistema, a insere de forma inadequada no ensino fundamental. Além disso, a sociedade e a família não ganham nada diminuindo o período da infância e suprimindo um ano de educação pre-escolar, já que só há conseqüências perversas com tal dispositivo: amplia-se a produção de estresse infantil devido aos problemas de inadequação aos longos horários, ou causados pelo uso das cadeiras escolares e até mesmo pelo aumento da reprovação. Já baixamos o limite de acesso a educação de sete para seis anos, e agora, querem cinco. Aonde isso vai parar?
A luta é motivo para reflexão. Ver educadores em um movimento político sempre é motivo de contentamento. Mais ainda quando liderados por Vidal Didonet, um dos maiores especialistas em Educação Infantil e cuja luta mostra que os professores não estão dispostos a abandonar a defesa da educação. Mais, mostra que os professores são capazes de se mobilizar e rapidamente tentar reverter o impacto de más políticas públicas. Que o campo destas políticas sejam ainda um lugar de lutas sociais, é um alento. Num mundo em que cada vez mais se afirma o desencanto dos educadores com a política, observar como eles são capazes de se mobilizar em defesa do respeito as características da infância, a defesa da educação de qualidade e o respeito às instituições democráticas, mostra que os movimentos sociais aindam tem uma grande contribuição a dar quando se adentra no século XXI.
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