quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Nascer de novo


Todo homem experiencia na metade de sua existência um acontecimento radical. Ele é o modo da Fortuna impor-nos um desafio, uma escolha entre caminhos a seguir. Pode ser um problema de saúde, a morte de um ente querido, um abalo na vida profissional, uma catástrofe natural, o fato é que este acontecimento torna-se o divisor de águas entre o que você foi e o que você deseja ser daí em diante. Esses acontecimentos radicais são experimentados pelas pessoas em suas vidas, mas nem sempre elas se permitem a reflexão sobre o que farão daí em diante em relação a seus corpos, que valor darão a partir de então aos seus entes queridos, se alcançaram sua Missão ou Vocação ou não, ou o que farão para escapar de situações de risco.

Estas experiências tem em comum mostrar o caráter pedagógico da proximidade da morte. A morte é uma professora que, quando acaricia o nosso rosto, nos ensina que em nossa vida temos de ter um momento para avaliar tudo o que somos, tudo o que fazemos. A morte é o fim, diz-se, mas fim também é a finalidade de alguma coisa, o que lhe dá sentido. Quando estamos envoltos nestas situações, parecem que não tem finalidade nem sentido: porque estou doente, porque isto aconteceu justamente comigo? Numa sociedade asséptica caracterizada pelo banimento da morte no plano real - onde fazemos de tudo para a esquecer - quem vivencia sua proximidade sabe que a situação lhe acontece para fazer uma pergunta: você chegou até aqui pela vida que leva. Está disposto a mudar?

Sobreviver a tais experiências caracteriza o que chamamos de ”nascer de novo”. A assinatura deste acontecimento é sempre com dor, muita dor, que é uma espécie de assinatura de um novo contrato que lhe é proposto. Você, pela primeira vez, descobre que tem um corpo que precisa de cuidados; você descobre um novo modo de olhar sua família e seus familiares, mais terno, mais carinhoso; você descobre se realizou sua vocação ou o que fez para distanciar-se dela e descobre que nada justifica expor-se a situações de risco. Ao “nascer de novo”, você sabe o que mudar em si – você já sabia há muito tempo, só não conseguia fazer e não se dava conta da importância disso – e em relação aos outros - que lugar ocupamos em nossa família ou nossa sociedade.

Você sabe que a partir deste momento, de alguma forma foi introduzido em seu interior algo que funciona como um relógio em contagem regressiva, uma espécie de bala simbólica que, a semelhança da que acerta Tony na novela Caminho das Índias, estará pronta para decretar o seu fim caso não aproveite esta oportunidade.

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