quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A crise do governo Yeda

Quando um governo se aproxima de sua derradeira crise, aquela que prepara a sua dissolução, regra geral é anunciada por um acontecimento singular. Como se antes de sua queda, ocorresse uma surpreendente transformação, as pessoas sentem que o governo chegou ao fim, e simplesmente não o respeitam mais. Isso ocorreu quando a casa da governadora foi objeto de manifestação pública e o momento preciso desta ruptura se deu quando Yeda Crusius respondeu asperamente aos professores. A cena deixou a impressão de o governo não respeitava mais os cidadãos.

Os cidadãos, desse dia em diante, resolveram não mais respeitar sua governadora.
O que estamos vendo agora? A instalação de um inquérito na Assembléia Legislativa pode ser interpretada como uma movimentação da oposição fadada ao fracasso, é verdade, já que os principais cargos encontram-se nas mãos de governistas. Mas existe ao fundo um fantasma, que é a propria denuncia feita pelo ministério público que ainda vigora no imaginário. Alguns enchergaram que o órgão havia chegado a seu momento de maturidade, pelo enfrentamento sem medo do poder e supostos corruptos de plantão. Vê-se uma geração de novos promotores dispostos a dar o primeiro passo para o fim da corrupção em nosso estado. Outros viram arroubos de uma juventude politicamente ideologizada, posição incompativel com juristas. O governo foi contestado duramente duas vezes.

Essa visão ignora os fatos, a saber: que o governo Yeda já iniciou com uma divisão nítida notável, representada pela modesta diferença de apenas 3% dos votos - somente uma cegueira política podia pensar numa oposição moderada. Por mais que pareçam que tais fatos emergem só agora, reedita-se a cisão da política estadual.
Toda a dificuldade de situar a crise é a dificuldade de apreender a verdadeira natureza do processo. Ele diz respeito ao modo de atividade da política e da justiça no meio da sociedade de cultura de massa: a enfática necessidade de aparecer para a multidão, a necessidade de mostrar serviço e de rebater as críticas e a necessidade imperiosa do espetáculo.

Esse modo de aparecer – da política, do judiciário – diz respeito a enfática transformação da esfera política. Há duas conseqüências disto. Yeda Crusius não fez o governo que apareceu prometer (a campanh de TV), mas justamente, fez o que prometeu (aos grupos, aos interesses de sua base): ser um legítimo governo centro e liberal. Distribuiu poucos recursos para a educação e a cultura, que como se sabe, é a contrapartida de governos que rezam pelo ajuste fiscal. Mostrou-se, assim, um governo com pouco investimento na questão social, se por investimento conceituamos a capacidade de resolver e encaminhar demandas de políticas públicas e sociais - o magistério, a brigada, entre outras.

Após o anúncio aguardam-se provas bem construídas. Se lembrarmos a juventude do MP, tais atos expressam seu potencial de guardião da cidadania. Não podemos esquecer, contudo, seja qual for o resultado, o que estamos assistindo é o questionamento de um governo legitimo, E que acusados, tem direito a ampla defesa. Por esta razão, é preciso cautela. Se nossa ânsia por sangue nos fizer esquecer a base da justiça, estaremos decretando o fim da democracia.

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